Reuters
06/10/2002 - 17h26

Freiras deixam clausura para votar com "consciência cristã"

da Reuters, em Porto Alegre

As 11 freiras que vivem enclausuradas no mosteiro de São Damião, em Porto Alegre, votaram hoje, como qualquer outro brasileiro que tem o direito de escolher seus representantes.

Por terem feito o voto de clausura, elas somente podem deixar o mosteiro em ocasiões especiais. E dia de eleição é uma delas.

"É um dever cívico, a gente é brasileira e exerce esse direito. Sempre votei", declarou a irmã Maria da Ordem das Irmãs Clarissas, 74, que, pela idade, poderia se abster de votar.

"Foi tudo muito tranquilo, inclusive a urna eletrônica se comportou bem comigo", declarou a religiosa, que votou no início da manhã.

As freiras tem contato restrito com o mundo exterior. Rádio e televisão somente são ligados quando há algum evento relacionado com o papa João Paulo 2º. Durante todo o período de campanha, as freiras não assistiram ou ouviram qualquer programa eleitoral ou debate entre os principais candidatos, mas mesmo assim se sentiram confiantes para fazer suas escolhas.

"Cada uma vota com toda a liberdade pessoal, não há insinuações", declarou ela, que se considera bem informada sobre os principais assuntos do mundo. Além de receberem um jornal local, distribuindo gratuitamente, as religiosas se mantêm informadas pelos fiéis.

"Antes de cair a segunda torre, já sabíamos o que estava acontecendo", disse a irmã, lembrando os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York, quando as Torres Gêmeas do World Trade Center foram atingidas por aviões de civis. "Uma pessoa deixou o recado na secretária eletrônica", disse a irmã. No lugar de correr para a televisão para acompanhar os acontecimentos, as freiras foram rezar.

Conscientização
A Igreja Católica manteve, nessas eleições, uma postura bastante independente, não apoiando formalmente qualquer candidato. Mas as freiras, apesar do isolamento, garantem não terem ficado a parte das discussões políticas.

"Nem todas as irmãs tem um esclarecimento", disse a irmã Maria, acrescentando que sempre discute política com as religiosas mais novas.

A escolha, segundo ela, é feita com base na "consciência cristã", e por isso candidatos que vão contra as regras da igreja católica foram descartados.

"Só posso afirmar que ninguém vai votar em abortistas", afirmou a freira, que não quis abrir o seu voto.

Veja também o especial Eleições 2002

 

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