Reuters
08/10/2002 - 14h11

Em discurso duro, Chávez rejeita imposições do FMI

da Reuters, em Caracas

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que seu país não aceitará receitas políticas ditadas por organismos financeiros internacionais como o FMI (Fundo Monetário Internacional), mesmo se as instituições cortarem os fundos para o quinto maior exportador de petróleo do mundo.

Ele também acusou o FMI, com sede em Washington, de ter demonstrado simpatia por um golpe em abril realizado por oficiais militares que o retiraram do governo por um breve período.

"As maiores organizações financeiras internacionais não querem dar um centavo à Venezuela, porque a Venezuela não quer aceitar imposições", disse Chávez na segunda-feira em Maracay, a oeste de Caracas.

"Não vamos aceitar (as imposições), mesmo se não nos derem um centavo. Vamos ver como sairemos dessa situação", afirmou Chávez durante discurso em uma fábrica têxtil.

A mensagem reflete a aparente ira pela relutância de instituições financeiras multilaterais e bancos estrangeiros em emprestar dinheiro para seu governo, no momento em que a Venezuela passa por tensões políticas, complôs de golpe e recessão severa.

Os principais ministros da área econômica de Chávez viajaram para os Estados Unidos no mês passado para tentar levantar novos fundos, a fim de ajudar a cobrir as necessidades financeiras deste ano, estimadas em US$ 4 bilhões.

Mas o ministro do Planejamento, Felipe Perez, e das Finanças, Tobias Nobrega, tiveram uma recepção fria. As instituições questionaram de perto o desempenho econômico do governo da Venezuela.

A Venezuela não procurou ajuda do FMI, mas tenta obter empréstimos do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outros.

A obtenção dos empréstimos ficou mais difícil com a avaliação crítica do FMI sobre a situação da Venezuela, disseram fontes do governo.

"O FMI, por exemplo, diz que não, a Venezuela não está apta a receber crédito", afirmou Chávez.


Fidel
Chávez disse, com raiva, que o FMI mostrou uma atitude diferente durante o golpe de abril.

"Ah, mas no dia do golpe (quando Chávez foi deposto)...um comunicado do FMI disse que estava pronto a dar à Venezuela o que ela precisasse", disse o presidente.

É improvável que a atitude de Chávez melhore a imagem da Venezuela na comunidade financeira internacional. As agências de classificação vêm abaixando continuamente o ranking de crédito do país.

Chávez, nacionalista eleito em 1998 que critica o capitalismo globalizado como "caminho para o inferno", disse que a Venezuela não aceitará ordens de nenhum "centro de poder".

"Somente de um, do povo venezuelano", afirmou o líder.

O presidente venezuelano, que é amigo próximo e aliado político do presidente de Cuba, Fidel Castro, enfrenta críticas internas e no exterior por sua "revolução".

Ele é acusado por adversários de tentar impor o comunismo no estilo cubano na Venezuela. A oposição planejou um protesto em Caracas na quinta-feira (10) para pedir eleições antecipadas e ameaça fazer uma greve nacional.

Chávez, que alega que seus adversários continuam planejando um golpe contra ele, iniciou uma ofensiva de segurança contra supostos golpistas, enviando policiais para investigar as casas de inimigos civis e militares.

"Alguns deles estão tentando fazer uma greve como desculpa para um golpe...mas, se eles convocarem uma greve nós os derrotaremos, e se tentarem um golpe também derrotaremos", disse o presidente.

A situação econômica da Venezuela vem piorando. O bolívar, moeda local, já perdeu cerca de 50% de seu valor neste ano frente à moeda norte-americana.

Chávez acusa banqueiros, empresários e especuladores financeiros de serem parte de uma conspiração para desestabilizar seu governo.

"Somos obrigados a defender a moeda, não vamos permitir que o bolívar continue se desvalorizando. Onde isso vai acabar? 2.000 ou 4.000 (bolívares por US$ 1)? Não, o Banco Central não permitirá e a análise final é que o governo revolucionário não permitirá", concluiu o presidente.

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