Reuters
09/10/2002 - 15h48

Cronenberg analisa obscuridade da mente humana no Rio BR

da Reuters, no Rio de Janeiro

"Spider", do diretor canadense David Cronenberg, é uma das boas atrações nas últimas sessões do Festival do Rio BR 2002, que caminha para o encerramento na quinta-feira.

Como sempre fiel à sua atração pelo lado obscuro da mente humana, o diretor de "Gêmeos - Mórbida Semelhança" conta a história de um homem (Ralph Fiennes) transferido de um hospital psiquiátrico, onde esteve internado por muitos anos, para um tipo de pensão, um local intermediário, onde se verificará se ele tem condições de se reintegrar à sociedade.

Vagando pela antiga vizinhança onde cresceu, Spider reencontra as memórias de sua infância, quando era um menino embalado pelo amor incondicional à mãe (Miranda Richardson).

O filme mostra esse flashback de uma forma muito competente, em que Spider está em cena junto com os personagens desse passado, num processo no qual emergem as lembranças e explicações de toda a sua trágica história. O pano de fundo é um conflito edipiano que assume um desdobramento radical, envolvendo seu pai (Gabriel Byrne).

Trata-se de um trabalho intenso e pessoal do diretor canadense, em que o ator inglês Ralph Fiennes ("O Paciente Inglês") praticamente não enuncia nenhum som. Através somente de gestos e expressões faciais, ele constrói a dor e a loucura de um personagem extremo em todas as suas escolhas.

"A Festa Nunca Termina"

"A Festa Nunca Termina", do inglês Michael Winterbottom, que também poderá ser visto hoje, já é tratado como um verdadeiro cult em todos os países onde é exibido.

O filme recupera a memória do nascimento da dance music na Manchester nos anos 1970 e 1980, em torno da danceteria La Haçienda, sacudida pela banda New Order.

O protagonista é o apresentador de TV Tony Wilson (Steve Coogan) que, dono de um faro espetacular para talentos, foi um dos 42 espectadores que assistiram ao primeiro show da banda punk Sex Pistols.
Inspirado por essa nova corrente do rock, ele criou o selo Factory Records (nome que homenageia a Factory, delirante oficina criada pelo artista plástico Andy Warhol), que terá entre suas descobertas o grupo Joy Division, que viria a se tornar o New Order, e o Happy Mondays.

O estilo irreverente escolhido por Winterbottom (de "Bem-Vindo a Sarajevo") para contar a história de Wilson é fundamental para que o filme fuja completamente ao documentário, por mais fiéis que possam ser diversos de seus episódios, contribuindo para que sua obra cumpra o objetivo de apreender o clima daqueles anos loucos.

O protagonista fala diretamente para a câmera em vários momentos, comentando cinicamente a própria biografia -da qual se diz mero coadjuvante- e não escondendo que há inúmeros fatos controversos nas versões que ele escolhe contar.

Numa cena muito engraçada, mostra-se como Wilson, depois de fumar um baseado, enxerga-se no céu como o próprio Deus, de cabeleira branca, conversando consigo mesmo.

 

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