Reuters
19/10/2002 - 19h19

''Invencível'', que está na Mostra, é fraca obra de Werner Herzog

da Reuters, em Hollywood

Mais ou menos 10 anos se passaram desde que foi lançado o último longa dramático do alemão Werner Herzog, fato que vem apenas aumentar a decepção provocada por "Invencível", que estréia neste sábado na 26ª Mostra BR de Cinema, em São Paulo.

Baseado em fatos reais ocorridos na Alemanha em 1932, um ano antes da ascensão ao poder de Hitler e dos nazistas, o filme trata de alguns dos mesmos temas e personagens de "Hanussen" (1988), de István Szabó, mas de maneira muito menos convincente.

A história de um ingênuo judeu que exibe os músculos em circos e é contratado por um showman fanaticamente pró-nazista precisaria de mais ironia, sutileza e estrutura dramática do que Herzog conseguiu imprimir ao material, e o resultado é que a história, potencialmente fascinante, acaba sendo enfadonha e até mesmo, por momentos, um pouco tola.

As perspectivas comerciais são limitadas, embora a fama do diretor possa ajudar o filme.

Representado pelo halterofilista finlandês Jouko Ahola, em seu primeiro papel como ator, Zishe é filho de um ferreiro judeu e vive com sua grande família, incluindo o irmão menor que o adora, Benjamin (Jacob Wein), num vilarejo no leste da Polônia.

Quando ele derrota um "Mr. Músculos" de um circo para ganhar dinheiro, é visto por um agente teatral alemão e convidado a ir a Berlim.

Em pouco tempo, é empregado pelo clube de Berlim pertencente a Hanussen (Tim Roth), um empresário do show business que afirma ser de uma família dinamarquesa nobre e é conhecido por simpatizar com o Partido Nazista, que está em rápida ascensão.

Não fica claro em nenhum momento por que o anti-semita Hanussen empregaria um halterofilista judeu, mas em pouco tempo Zishe se vê vestido num uniforme de soldado russo, usando peruca loira e apresentado como Siegfried, um super-homem ariano.

Zishe começa a gostar da pianista do clube, Marta, representada pela pianista clássica russa Anna Gourari, também em seu primeiro papel como atriz.

Infelizmente para Zishe, Marta é amante de Hanussen, que a maltrata. Uma noite, diante de uma platéia quase inteiramente nazista, Zishe revela que é judeu. Quase acontece um tumulto geral na casa, mas, curiosamente, Hanussen decide conservá-lo no emprego - por razão que não ficamos sabendo.

"Invencível" trata de um período fascinante da história do século 20, mas não o retrata de maneira muito interessante. O filme de Herzog está longe de se comparar com as obras de István Szabó sobre a República de Weimar ("Hanussen" e "Mephisto"), e parte do problema é que seu herói ingênuo não substitui o tipo de personagem central que normalmente funciona melhor para Herzog: os obcecados desvairados de "Fitzcarraldo" e "Aguirre, a Cólera dos Deuses".

A falta de experiência de Ahola se evidencia claramente em várias cenas-chaves. Isso deixa Tim Roth, entre os atores principais, responsável por segurar o filme, coisa que o astrofaz com seu costumeiro estilo frio, mas a ausência de seu personagem na tela por longos períodos é um problema que nem mesmo o hábil Roth pode superar.

Com duas horas de duração, "Invencível" é longo demais e se beneficiaria se fosse extensamente podado. Os valores de produção são sólidos, e a trilha sonora, previsivelmente, é rica e bela.

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