Reuters
21/10/2002 - 19h46

Greve anti-Chávez acirra impasse na Venezuela

da Reuters, em Caracas

Uma greve convocada pela oposição pedindo a renúncia do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, provocou o fechamento de muitas lojas, escolas, bancos e empresas hoje. Entretanto, o governo considerou o movimento um fracasso e descartou convocar eleições antecipadas.

O protesto de 12 horas reduziu as atividades econômicas em Caracas e em outras cidades, mas não conseguiu romper o impasse político que tem dominado o quinto maior exportador de petróleo do mundo desde que Chávez sobreviveu a uma tentativa de golpe em abril.

A produção e a exportação de petróleo não foram afetadas pela paralisação, reduzindo seu impacto econômico, segundo autoridades de energia.

Por causa da guerra de palavras promovida pelo governo e grevistas a respeito do nível de adesão ao movimento, adversários do presidente prometeram intensificar os atos de protesto, na tentativa de forçá-lo a recuar.

"O sucesso dessa greve foi demonstrado. Não vamos abandonar as ruas", disse o chefe da União Anti-Chávez, Carlos Ortega.

Líderes da greve disseram que a paralisação teve adesão de 80% em todo o país, mas o governo contradiz esta estimativa.

"A greve fracassou", afirmou a ministra do Trabalho, Maria Cristina Iglesias, numa rede nacional de televisão e rádio. "O país não parou. Está andando", disse o vice-presidente, José Vicente Rangel. Para ele, a adesão não passou dos 10%.

Mas os efeitos da paralisação foram visíveis em Caracas, cujas avenidas normalmente congestionadas estavam vazias. Muitos supermercados, empresas, bancos, escolas, bares e restaurantes da cidade ficaram fechados.

Os efeitos foram mais claros na rica região leste da cidade, onde o sentimento anti-chavista é mais forte. Mas no centro e na parte oeste, mais pobre, tradicionais baluartes do presidente, muitas lojas e negócios abriram as portas.

Desafio a Chávez
"Todos estão abertos aqui. Há muitas pessoas a favor de Chávez e, se você não abre, você chama a atenção", disse o dono de loja de móveis Jorge Samaan no distrito de Catia.

Cerca de 5.000 soldados e homens da Guarda Nacional patrulharam as ruas de Caracas para prevenir a violência. Alguns donos de lojas disseram que receberam ameaças de ativistas radicais pró-Chávez para abrirem suas portas.

Chávez, ex-pára-quedista eleito democraticamente em 1998, mas que encara grande oposição a sua autoproclamada revolução, qualificou a greve como ilegal, e disse que ela faz parte dos esforços da oposição para depô-lo pela força.

Enquanto seus adversários dizem que suas "reformas intervencionistas de esquerda" e seu estilo de liderança de confrontação estão levando a Venezuela ao caos ou ao estilo do comunismo cubano, Chávez insiste em dizer que tem o apoio da maioria empobrecida do país.

Rangel descartou a possibilidade de os organizadores da greve pudessem estender a paralisação além das 12 horas inicialmente previstas. "Se não funcionou hoje, não vai funcionar amanhã", disse.

A ministra do Trabalho afirmou que as fábricas estatais de aço e alumínio, concentradas no Estado de Bolívar, estavam operando.

"Esta greve é um desafio a Chávez. Vamos ver se ele aceita o desafio", disse Elias Santana, líder de uma coalizão de oposição.

Chávez, reconduzido ao poder por tropas leais ao governo em abril, depois de ter sido deposto por 48 horas, disse a seus inimigos políticos que eles precisam esperar até agosto do próximo ano, na metade de seu mandato, para levar a termo um plebiscito.

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