Reuters
23/10/2002 - 18h24

Pressão política pode forçar presidente paraguaio a renunciar

da Reuters, em Assunção (Paraguai)

O governista Partido Colorado pode forçar a renúncia do presidente do Paraguai, Luis Gonzáles Macchi, que ficou enfraquecido depois da demissão do vice-presidente Julio Cesar Franco, segundo uma fonte do partido.

"Defendemos essa situação, [mas] esse compromisso terminou e estamos buscando um vice-presidente que realmente possa substituí-lo", disse o presidente do Partido Colorado e pré-candidato à Presidência, Nicanor Duarte Frutos, durante discurso.

A presença de Franco -líder da oposição- na vice-presidência, cargo ao qual chegou em agosto de 2000, representava para González Macchi um escudo, que o livrou de seis pedidos de julgamento político desde sua chegada ao poder, em 1999.

A maioria colorada impediu, no Congresso, toda tentativa de remoção do mandatário, enquanto Franco se encontrava na linha direta de sucessão, por causa de graves acusações.

Mas agora González Macchi enfrenta sozinho o descontentamento de seu partido, ao mesmo tempo em que, segundo pesquisas de uma consultoria privada, em agosto 62,5% dos paraguaios consideravam sua gestão péssima, e 30,2%, ruim.

González Macchi assumiu o governo em março de 1999, quando o posto de presidente estava vago, após o assassinato de Luis María Argaña e a renúncia do então presidente, Raúl Cubas, que era o presidente do Congresso e o terceiro na linha de sucessão de poder.

Uma decisão da Corte Suprema de Justiça concedeu-lhe o poder até agosto de 2003.

Com a renúncia de Franco, o Congresso, de maioria governista, deve designar o novo vice-presidente. A Constituição de 1992 faculta ao Poder Legislativo a prerrogativa de nomear qualquer cidadão para o cargo quando faltam poucos meses para o final do mandato.

"Não temos compromisso com esses grupos de poder [relacionados com o presidente]. Simplesmente defendemos o Partido Colorado", afirmou Duarte Frutos. Ele é o candidato presidencial que tem o apoio da cúpula do partido para as eleições gerais previstas para o dia 27 de abril e, segundo analistas, deverá se distanciar do presidente para aumentar suas chances eleitorais.

"O problema é que a manutenção no poder de um presidente tão impopular significa o fomento da simpatia das pessoas por opções de oposição", afirmou o sociólogo José Nicolás Morínigo.

O Partido Colorado, que governa o Paraguai desde janeiro de 1947 e é o agrupamento político mais antigo em exercício ininterrupto do poder no mundo, sustentou uma ditadura de 35 anos, à qual colocou um fim em 1989, conseguindo eleger todos os seus sucessores desde então.

González Macchi se envolveu nos maiores escândalos de corrupção conhecidos no país desde o início da etapa democrática do Paraguai, após o fim da ditadura de Alfredo Stroessner em 1989.

Entre eles, estão o uso de um carro roubado no Brasil como veículo presidencial, o desvio de fundos de bancos privados que estavam sob intervenção do Estado e escândalos de malversação de verbas e de superfaturamento em um processo frustrado de privatização de empresas públicas.

Oposição
Um dos principais personagens da oposição que poderia ganhar espaço político perante o fracasso do coloradismo é o ex-vice-presidente Franco, um médico de 52 anos.

Franco é o líder do maior bloco de oposição, o Partido Liberal, que espera se aliar a setores dissidentes do Partido Colorado e ao general golpista Lino Oviedo, que está exilado no Brasil, condenado a uma pena de dez anos de prisão por tentativa de golpe de Estado em 1996.

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