Reuters
25/10/2002 - 11h55

Sem produtos de higiene e água, situação de reféns piora em Moscou

da Reuters, em Moscou

As luzes se queimam constantemente. As cadeiras viraram camas e o poço da orquestra, banheiro. Não há papel higiênico ou água corrente. O cheiro piora. As pessoas se amontoam no meio do teatro em Moscou, tentando confortar os membros de suas recém-adquiridas "famílias", reunidos desde a noite de quarta-feira (23), quando um musical se transformou em um terrível cerco.

O médico Leonid Roshal, chefe do Comitê Internacional para Desastres Pediátricos, que passou mais de seis horas no teatro ontem, disse que centenas de reféns detidos por um auto-denominado "esquadrão suicida" tchetcheno lutam para sobreviver, à medida que os minutos e horas se arrastam.

"Eles se tornaram um tipo de família. Alguns até brigam com os outros. Eles tentam dar risada. Estão apenas tentando sobreviver", Roshal.



Roshal é um entre cinco médicos com permissão, até o momento, de entrar no recinto, tomado na noite de quarta-feira por cerca de 50 guerrilheiros tchetchenos, fortemente armados. Os rebeldes exigem que a Rússia retire suas tropas da Tchetchênia.

Crianças
A maior parte das crianças mais novas foi libertada, incluindo, na manhã de hoje, oito delas que pensavam ter conseguido o papel de suas vidas quando foram selecionadas para participar no musical "Nord-Ost" -a história de um explorador russo no Ártico.

Mas Roshal teme pelo bem-estar de alguns adultos sofrendo de fortes dores abdominais, que podem indicar apendicite. Há alguns reféns com problemas cardíacos e as mulheres sofrem com a crescente falta de produtos sanitários.

"Há mulheres precisando de produtos de higiene, antibióticos e colírio", disse. "Não há remédios suficientes e isso significa que as coisas só podem piorar."

Ele afirmou que as condições sanitárias também só podem se deteriorar.

"Há banheiros, mas não o suficiente. Então, eles vão até o poço da orquestra e a uma outra sala perto...As mulheres estão tentando estabelecer algum tipo de ordem", disse Roshal.

Duas pessoas podem estar precisando se submeter a operações. Mas, até agora, os guerrilheiros se recusaram a permitir que os doentes sejam transferidos para um hospital. Segundo Roshal, eles podem morrer.

"Eles nos disseram para vir aqui e operar...Mas isso seria muito complicado", explicou.

O médico acredita que independentemente de como a crise acabe, os reféns levarão consigo as marcas do que aconteceu para o resto de suas vidas. "A maioria vai precisar de auxílio psicológico depois disso."

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