Reuters
28/10/2002 - 00h38

Wall Street recebe governo Lula com voto de confiança

da Reuters, em Nova York

Após meses de turbulência econômica e muita insegurança, a maior parte dos analistas e investidores em Wall Street decidiu depositar um voto de confiança no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda assim, há aqueles que continuam receosos.

Foi o receio de que uma administração petista conduza o país à moratória que levou os preços dos ativos brasileiros a desabarem. Na última semana, entretanto, o coração financeiro do mundo decidiu conceder ao Brasil o benefício da dúvida e as cotações experimentaram uma ligeira melhora.

"Wall Street espera para ver se o Lula que vai tomar posse é a pessoa moderada e com visão de futuro que apareceu na campanha ou se ele voltará à sua essência esquerdista", diz David Roberts, economista internacional sênior da Banc of America Securities. "Se ele der os sinais certos, pode haver uma recuperação significativa nos preços dos ativos brasileiros", avalia.

Os investidores começaram 2002 convictos que Lula perderia as forças no decorrer da campanha e perderia a eleição para um candidato mais moderado, como ocorreu nas outras três eleições das quais participou. Mas desta vez, Lula conquistou e manteve seus eleitores adotando ele mesmo uma postura moderada.

A eleição de Lula no Brasil, o primeiro presidente da classe operária, pode ter múltiplos efeitos na América Latina.

"Com exceção do México, a América Latina tem sérios problemas de financiamento", avalia Roberts. "Se os mercados se volta, contra o Brasil, países com a Venezuela, que tem um presidente populista, e o Peru, que já teve problemas de financiamento nos mercados internacionais, sofrerão ainda mais", acrescentou.

Lawrence Krohn, diretor de pesquisa de dívida para América Latina no ING Financial Markets afirmou que as chances de sucesso de Lula estão nas mãos do mercado de câmbio, que pode ou não sustentar a alta do dólar até a posse de Lula, em janeiro. Este ano, o dólar subiu 61%.

"Se a pressão cambial continuar até o fim do ano, a economia que Lula herdar estará tão abatida que será muito difícil ele ser bem-sucedido", disse Krohn. "Por outro lado, se o dólar cair continuamente, as taxas de juros poderão cair e a dívida, diminuir, o que vai dar a Lula uma chance de lutar e evitar a moratória, se sua política der resultados."

José Serra era tido pelos investidores como o candidato mais apto a continuar as reformas econômicas iniciadas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.

O risco-país brasileiro, calculado pelo banco JP Morgan a partir dos juros pagos pelos títulos da dívida brasileira no exterior, alcançou históricos 2.436 pontos no fim de setembro, quando a vitória de Lula ficou evidente. Um risco desse tamanho limita o crescimento econômico ao tornar quase impossível, para as empresas brasileiras obter crédito no exterior.

Desde então, o risco recuou, até chegar aos 1.780 pontos na sexta-feira.

As duas questões-chave presentes já na abertura dos mercados nesta segunda-feira são quando Lula vai declarar sua e quando vai anunciar os nomes que preencherão as vagas do PT na equipe de transição com o atual governo.

"Os preços no mercado ainda incluem um alto grau de incerteza em relação às duas questões", diz Mohamed El-Erian, diretor de mercados emergentes na Pacific Investment Management Co.. "Lula herda uma economia que passa por um momento crítico, e o que ele faz tem consequências sobre toda a América Latina.

Lula poderá seguir os exemplos do Chile e do México, onde as transformações políticas foram usadas para reforçar a instituição democrática, disse El-Erian. Mas os investidores temem que o Brasil siga o caminho da Argentina ou da Venezuela, onde a política minou a economia.

"Considerando o foco de Lula no crescimento econômico e na redução da pobreza, é mais provável que ele siga o exemplo do México e do Chile, mas o mercado ainda espera para ver uma atitude."
 

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