Setor aéreo espera ganhar fôlego com Lula, se o dólar cair
DENISE LUNAda Reuters, no Rio
A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva renovou as esperanças das companhias aéreas brasileiras, que confiam no cumprimento nas promessas feitas em campanha pelo presidente eleito no domingo. A queda do dólar, no entanto, será o fator decisivo para o sucesso de qualquer futura medida do novo governo.
A mudança de governo vai abrir também espaço para a retomada do diálogo entre governo e os empregados do setor, que, segundo a presidente do Sindicato dos Aeronautas, Graziela Baggio, havia sido abandonado nos últimos quatro anos.
``A política do Lula é a mesma que o sindicato vem pedindo há quatro anos ao atual governo: sentar para discutir com seriedade maneiras de tornar o setor competitivo'', disse Graziela.
Favorável à isonomia tributária e de financiamentos compatíveis com a realidade das empresas aéreas internacionais, para garantir uma concorrência equalizada para as empresas brasileiras, o governo Lula terá pela frente a tarefa de indicar os nomes que comandarão a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), na qual o setor aposta suas últimas fichas.
A capitalização da Varig, prevista para ocorrer até o final do ano, não deverá ser prejudicada pelo governo eleito devido ao seu forte caráter social, segundo analista.
``Seria um tiro no pé se o Lula barrasse a capitalização da Varig e provocasse milhares de demissões'', disse à Reuters o analista da corretora Itaú, Alexandre Torrano.
Como contará com recursos do governo, a capitalização da Varig será discutida pela equipe de transição a ser formada pelo atual e futuro governo na terça-feira. O objetivo é resgatar a empresa da pior crise da sua história.
Para Torrano, as companhias aéreas brasileiras passam a ter mais chances de socorros governamentais. Porém, ressaltou, a recuperação do setor só virá se o dólar cair em relação ao real, reduzindo os custos com aluguel de aviões e combustível.
Na avaliação do presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), George Ermakoff, a estabilidade do dólar também é ponto fundamental para o sucesso de qualquer iniciativa do novo governo.
``O que mais nos afetou este ano foi a instabilidade cambial. A maior ajuda que o governo Lula pode nos dar é a queda do dólar'', disse Ermakoff. Por conta da alta do dólar, as empresas brasileiras aumentaram em cerca de 60 por cento o preço das passagens aéreas este ano, reduzindo com isso a já minguada demanda do setor.
EXPECTATIVA COM ANAC
Ermakoff afirmou que existe uma expectativa positiva em relação ao novo governo, ``com muita esperança de que, pelo menos para o nosso setor, as coisas vão melhorar''.
Ele informou ter recebido do próprio Lula e do presidente do PT, deputado José Dirceu, durante a campanha, a garantia de que o setor aéreo é considerado estratégico e terá condições de decolar novamente.
A criação da Anac, que se arrasta desde o primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, deverá ser concretizada até o final do ano e vai contribuir para solucionar os problemas do setor, afirmou Ermakoff.
``O PT tem participado ativamente da criação da Anac e a considera fundamental, para o setor poder caminhar com as suas próprias pernas depois de bem regulamentado'', disse Ermakoff.
Com uma agência reguladora do setor criada, a expectativa é que se inicie a discussão sobre de um novo Código Brasileiro de Aeronáutica --o atual tem mais de 20 anos-- e se resolvam temas polêmicos como a Ataero (taxa que incide sobre as taxas aeroportuárias), que aumenta o custo das companhias.
Para analistas, a criação da Anac é importante para atrair investidores com regras claras e definidas. A TAM, segunda maior companhia do setor, por exemplo, aguarda apenas a nova regulamentação para acessar o mercado de capitais e financiar seus planos de expansão. A novata Gol também poderia se beneficar com a entrada de investidores estrangeiros.
``Nenhum investidor fará nada com as empresas brasileiras enquanto as regras não forem definidas'', avaliou um analista.
