Reuters
02/11/2002 - 19h28

Governo da Colômbia contraria Justiça e manterá traficantes presos

da Reuters, em Bogotá (Colômbia)

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, ordenou hoje que não sejam liberados os antigos chefes do narcotráfico de Cali até que sejam resolvidas as dúvidas jurídicas da decisão e sobre o possível suborno do juiz que concedeu liberdade condicional ontem.

"A ordem judicial e o habeas corpus para libertar as pessoas que estão presas não podem ser automaticamente aceitas pelo governo quando existem profundas dúvidas jurídicas sobre o assunto. O governo não vai autorizar a liberdade dos presos enquanto existam dúvidas", disse Uribe.

Até o momento, são desconhecidos os mecanismo pelos quais o presidente colombiano pode contrariar decisão do juiz Pedro José Suárez de libertar os irmãos Miguel e Gilberto Rodríguez Orejuela, condenados por tráfico de drogas, enriquecimento ilícito e formação de quadrilha.

Membros da procuradoria-geral colombiana disseram ignorar a base jurídica ou a existência de instrumentos para que o Poder Executivo possa interferir no Judiciário, em um país onde o poder é dividido em três poderes.

O juiz Suárez declarou que "a decisão poderia ser eventualmente revogada única e exclusivamente pelo Tribunal Superior de Tunja, que seria a corporação que conhece a segunda instância da decisão que foi tomada".

A eventual libertação dos chefes do narcotráfico, que são mantidos em detenção de segurança máxima, poderia afetar as relações entre Colômbia e Estados Unidos, o principal aliado do governo na luta antidrogas, além de prejudicar a imagem do país perante a comunidade internacional.

"Este é um tema de grande importância nacional e internacional. É algo que compromete a dignidade da nação, a credibilidade popular nas instituições, o prestígio da justiça e a respeitabilidade internacional", afirmou Uribe.

Os chefes do cartel de Cali, que tiveram extradição pedida pelos Estados Unidos, foram os líderes da maior organização de narcotráfico do mundo, que em seu apogeu chegou a controlar 80% do mercado global de cocaína, após o desmantelamento do cartel de Medellin, cujo cabeça era o traficante Pablo Escobar.

Gilberto Rodríguez, 63, foi preso em junho de 1995, enquanto seu irmão, Miguel, 59, foi detido dois meses depois. As duas prisões aconteceram na cidade de Cali, capital do estado de Valle, a 250 km da capital colombiana, Bogotá.

As penas, inicialmente, eram de 15 anos para Gilberto e de 17 anos para Miguel Rodríguez Orejuela. Os dois, porém, tiveram as penas reduzidas por terem confessado os delitos e estudado e trabalhado na prisão.

Sobre um possível suborno para a libertação dos irmãos, o juiz afirmou: "Houveram algumas declarações surpreendentemente graves, que atentam não só contra minha dignidade mas contra toda administração da justiça de nosso país".

Entretanto, o presidente Uribe disse "não entender porque um juiz encarregado de seus despachos possa produzir uma ordem de liberdade condicional que compromete os mais altos interesses da nação sem consultar uma estância superior".


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