Reuters
01/12/2002 - 18h06

Paramilitares colombianos iniciam cessar-fogo inédito

da Reuters, em Bogotá

A maior organização paramilitar da Colômbia silenciou neste domingo seus fuzis, dando início a um cessar-fogo unilateral para tentar formar as bases de um acordo de paz com o governo do presidente Alvaro Uribe.

"Desde a zero hora (3h de Brasília) iniciamos o cessar das hostilidades. Estamos otimistas de que essa histórica decisão contribuirá para a paz da Colômbia", disse à Reuters um alto chefe paramilitar que pediu para não ser identificado.

O cessar-fogo das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), a organização paramilitar mais importante do país e que tem cerca de 10 mil combatentes, começou após uma série de reuniões secretas entre líderes de grupos armados ilegais e o governo, com mediação da Igreja Católica.

É a primeira vez na história do país de mais de 40 milhões de habitantes que os paramilitares declaram cessar-fogo. No passado já haviam declarado apenas tréguas de Natal.

O governo de Uribe manteve o silêncio desde sexta-feira, quando os paramilitares anunciaram a decisão de silenciar os fuzis. O presidente limitou-se a dizer ontem que a iniciativa de paz "cria um alívio'".

O presidente já garantiu que está disposto a iniciar negociações de paz com os grupos armados caso eles assumam o compromisso de "não assassinar mais nenhum colombiano".

Os paramilitares são grupos armados ilegais que combatem a guerrilha e seus colaboradores com métodos violentos e são acusados de contar com o apoio de alguns setores das forças militares e de cometer as piores violações dos direitos humanos, como massacres e crimes seletivos.

Fontes das AUC revelaram que começarão a concentração de suas tropas a partir do cessar-fogo, mas advertiram que continuarão atentas para evitar que as guerrilhas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), ou do Exército de Libertação Nacional (ELN), façam incursões nas regiões que controlam.

Analistas políticos advertiram que o cessar-fogo das AUC e sua intenção de paz são o início de um longo caminho cheio de obstáculos jurídicos, políticos, militares, sociais e internacionais.

Os dois chefes máximos das AUC, Carlos Castaño e Salvatore Mancuso, são acusados de narcotráfico e assassinatos seletivos. Os Estados Unidos pediram suas extradições, o que dificultaria uma anistia ou indulto.

As AUC, acusadas de obter a maior parte de seu financiamento a partir do narcotráfico, estão na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

Outros dois grupos paramilitares, o Bloco Central Bolívar e o Vencedores de Arauca, que agrupam cerca de 1.500 homens, também vão declarar cessar-fogo nos próximos dias. Já os grupos Bloco Metro e Casanare, com 1.300 homens, não se aproximaram do governo.

Até agora a Colômbia só havia dialogado com as guerrilhas Farc e ELN, que juntas contam com 22 mil combatentes.

As AUC querem reconhecimento político, suspensão das ações judiciais contra seus negociadores, financiamento de seus combatentes durante as negociações e o direito de assumir a segurança nas regiões que controlam e de onde expulsaram a guerrilha.

Também querem a libertação de milhares de combatentes e se comprometeriam a erradicar os cultivos ilegais nas regiões que controlam.

 

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