Reuters
06/12/2002 - 15h22

Nova geração assume busca por desaparecidos na Argentina

da Reuters, em Buenos Aires

Paula, 26, conta com orgulho que há poucos dias se formou em Sociologia, a mesma profissão que seu pai queria exercer, mas não pôde porque desapareceu nas mãos da ditadura que governou a Argentina entre 1976 e 1983.

Mas Paula, que tinha apenas 11 meses naquela época, não só seguiu o caminho profissional de seu pai, como também decidiu continuar sua luta e manter seus ideais de esquerda.

Ontem, durante a 22ª Marcha da Resistência, realizada anualmente pelas Mães da Praça de Maio, Paula recebeu de sua avó o lenço branco que simboliza a luta dessas incansáveis mulheres para esclarecer o destino de milhares de filhos e netos desaparecidos.

Essa praça, onde fica a sede do governo, é a mesma onde há 25 anos algumas mães se juntaram pela primeira vez para pedir a devolução de seus filhos.

"Esse lenço significa não se render, seguir lutando, não trair a luta de nossos velhos", disse Paula, ao som de uma canção do cubano Silvio Rodríguez, ícone dos movimentos de esquerda.

Como todos os anos, as Mães permaneceram durante 24 horas na histórica praça para lembrar os desaparecidos e pedir a suspensão das leis de anistia, que pouparam centenas de militares de ir a julgamento por violações dos direitos humanos.

Mas a marcha deste ano também tinha um motivo especial: transmitir o legado de resistência e busca da justiça aos netos. Cerca de cem curiosos e militantes de entidades de direitos humanos acompanharam a cerimônia, na qual um telão foi erguido com as fotos em preto-e-branco de milhares de desaparecidos.

As mulheres com os lenços brancos amarrados na cabeça são uma das imagens mais fortes da ditadura argentina. Chamadas de "loucas" pelos militares na época, as Mães trouxeram à tona, ainda durante a ditadura, uma discussão que era tabu no país.

"É preciso prosseguir a luta, enquanto não houver justiça a luta não vai parar", afirmou Marta, 75, militante das Mães da Praça de Maio, que perdeu um filho e a nora grávida em maio de 1976. Ela acredita que seu neto nasceu em um centro clandestino de detenção.

Apoiada em uma bengala, ela diz que agora a Argentina enfrenta outro momento dramático, o da profunda recessão. "A luta continua porque agora há um segundo genocídio, que é o dos nossos meninos morrendo de fome".

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