Reuters
09/12/2002 - 21h04

Pobreza que atinge crianças argentinas deixará marcas no futuro

da Reuters, em Buenos Aires

O futuro de muitas crianças argentinas que não recebem os nutrientes necessários estará gravemente afetado quando elas atingirem a idade adulta. Em consequência das carências que enfrentam, terão menos força, menor estatura, capacidade intelectual inferior e serão mais vulneráveis a todo tipo de doença.

"Elas serão mão-de-obra pouco qualificada e vão depender muito do Estado para sua subsistência, manutenção e atenção", disse Alejandro O'Donnell, diretor do Centro de Estudos sobre Nutrição Infantil (Cesni).

Um comunicado do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) revelou que 4 milhões dos 5,7 milhões de menores de 14 anos que vivem na Argentina são pobres, ou seja, suas famílias não satisfazem suas necessidades básicas.

As crianças são um dos setores mais atingidos pela crise da economia argentina, que não cresce desde 1998. Mais da metade de seus 36 milhões de habitantes está na pobreza, enquanto uma em cinco pessoas em idade produtiva está desempregada.

Imagens recentes divulgadas na televisão, que mostravam os corpos raquíticos de crianças desnutridas em Províncias do norte argentino, são difíceis de serem entendidas em um país considerado um dos principais produtores mundiais de grãos, capaz de alimentar cerca de 300 milhões de pessoas.

O empobrecimento da Argentina foi exacerbado durante a última década, quando a taxa de desemprego mais do que duplicou. Em maio deste ano, o índice chegou a um máximo de 21,5% da população em condições de trabalhar.

A situação, no entanto, agravou-se no começo do ano, com a subida generalizada dos preços depois da desvalorização da moeda local. A cesta básica de alimentos e os produtos de limpeza e higiene pessoal aumentou mais de 90% desde janeiro, segundo associações de consumidores, enquanto que os salários permaneceram praticamente congelados.

"Se não conseguirmos deter isso, vamos ter uma geração de famílias formadas por pessoas que tiveram uma saúde precária, o que provavelmente vai causar problemas tanto para trabalhar quanto para se reproduzir", disse María Luisa Ageitos, consultora da área de saúde do Unicef na Argentina.

Desnutrição
A desnutrição é uma dos aspectos mais tristes da pobreza na Argentina. Segundo grupos de saúde, o problema afeta um em cinco crianças e já provocou a morte de dezenas de menores.

"Essas crianças que ficam desnutridas nos primeiros anos de vida, por falta de comida ou por falta de algum nutriente em especial, vão ficar com déficit de estatura e menor desenvolvimento muscular. E se vão fazer trabalhos manuais, estarão em clara desvantagem frente aos outros", afirmou O'Donnell.

"Quando forem adultos, terão mais tendência à obesidade do que os que não eram desnutridos. E virá a diabete, a hipertensão, o enfarte. E terão um risco muito maior de morte do que os que foram alimentados normalmente", acrescentou.

"Primeiro, a criança perderá a quantidade de cálcio nos ossos, vai diminuir a quantidade de gordura no corpo, a riqueza de sua massa muscular e o último órgão que vai sofrer desnutrição será o cérebro", explicou Héctor Waisburg, da Unidade de Maturação e Desenvolvimento do Hospital de Pediatria Garrahan.

Segundo o especialista em neurologia, existe uma relação direta entre "desnutrição" e "efeitos no cérebro".

Os especialistas concordam que somente um plano orgânico e sistemático urgente poderia impedir a perda de uma geração marcada por carências alimentares e educativas nos país.

Leia mais notícias de Mundo
 

FolhaShop

Digite produto
ou marca