Reuters
17/12/2002 - 19h37

Latinos se integram com rapidez à sociedade dos EUA, diz estudo

da Reuters, em Washington

Os descendentes de imigrantes latino-americanos estão incorporando rapidamente os credos e valores da maioria das pessoas dos Estados Unidos, segundo estudo divulgado hoje.

A pesquisa desafia a crença de que os hispânicos, ao contrário de outras ondas imigratórias, resistem à integração plena à sociedade norte-americana.

A pesquisa, realizada pelo Centro Hispânico Pew e pela Fundação da Família Kaiser, ouviu 4.200 pessoas, das quais 2.929 descendentes de várias gerações de imigrantes hispânicos, 1.008 de norte-americanos sem ascendência hispânica e o restante, de outras raças.

Nos Estados Unidos são definidas como hispânicas todas as pessoas procedentes da América Latina ou seus descendentes, não importa a raça.

O estudo também mostrou que os norte-americanos de origem hispânica usam o inglês de maneira muito mais extensa do que se imaginava, afastando a preocupação de alguns educadores e políticos de que os hispânicos resistem a aprender inglês.

"A integração está funcionando, já que o estudo demonstra que os filhos dos imigrantes latinos falam inglês e expressam crenças mais próximas da maioria norte-americana que a geração imigrante", disse Roberto Suro, diretor do Centro Hispânico Pew, grupo de estudos com base em Washington.

Diferenças dramáticas
Suro disse que as divisões entre gerações foram "dramáticas" em alguns casos.

Com cerca de 35 milhões de hispânicos nos Estados Unidos, a comunidade é a maior minoria étnica do país e a que cresce de maneira mais rápida.

Apesar de ter suas próprias emissoras de rádio, canais de televisão e mesmo etiquetas bilíngues nos produtos, a maioria norte-americana está mudando a cara dos imigrantes, e não vice-versa.

"'O alcance da assimilação linguística é realmente muito poderoso", disse Suro.

Cerca de 96% dos hispânicos nos Estados Unidos são bilíngues ou consideram o inglês seu idioma principal, frente aos 28% dos nascidos no exterior.

"Fala-se muito espanhol [nos Estados Unidos] porque há muitos imigrantes adultos. Não se deve a alguma resistência ao inglês", disse Suro.

Inclusive, na primeira geração de imigrantes, apenas 6% dos hispânicos se definem como "norte-americanos".

A cifra sobe para 35% na segunda geração e dispara para 57% na terceira.

Os hispânicos nascidos nos Estados Unidos que falam inglês tendem a ter valores sociais e crenças mais características da maioria norte-americana, segundo o estudo.

Por exemplo, 74% da maioria branca considera o divórcio aceitável, uma postura confrontada por 65% dos latinos nativos.

Mas esse número cai a 51% entre os hispânicos nascidos no exterior.

Somente 20% dos latinos que nasceram fora dos Estados Unidos aceitam o fato de que membros do mesmo sexo possam ter relações sexuais, frente a 33% entre norte-americanos de origem hispânica e 38% entre os de origem norte-americana.

E 91% dos latinos nascidos fora do país acreditam que os filhos deveriam viver com seus pais até se casarem. Entre os hispânicos nascidos nos Estados Unidos, a taxa é de 57%, e de 46% entre os norte-americanos sem ascendência hispânica.

Fatalismo
A assimilação também ocorre em campos mais sutis, como o papel do indivíduo no mundo, por exemplo.

Entre os latinos que nasceram fora dos país, 52% disseram estar de acordo com a afirmação de que não vale a pena planejar o futuro porque não o controlam. Esse número cai para 25% para os latinos criados nos Estados Unidos e para somente 15% entre os norte-americanos sem origem hispânica.

"A sensação de que uma pessoa tem poder como indivíduo é uma característica comum na América Latina, especialmente entre os mais pobres", disse Suro. "A crença na América Latina é que uma pessoa arruma tudo sozinha... Os latinos nativos aceitaram a visão do norte-americano sobre o destino".

Mas Suro disse que há campos em que os latinos não incorporam todos os valores e crenças da maioria norte-americana.

Tanto os hispânicos nativos quanto os nascidos no exterior aprovam uma maior presença do governo nos programas sociais.

Todos os hispânicos tendem a valorizar mais os laços familiares que os norte-americanos. Os hispânicos estrangeiros e os nascidos nos EUA afirmam aprovar a afirmação de que "a família é mais importante que as amizades" em 92% e 82% das vezes, respectivamente. Entre os norte-americanos, 67% disseram estar de acordo.

"Há dois processos que funcionam aqui", disse Suro. "Um é a imigração que segue seu curso, o outro é a assimilação. Este é o primeiro estudo grande desta população e seu atual estado, em que a maioria dos adultos é de imigrantes. E é grande o suficiente para ver os processos que ocorrem".

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