Reuters
20/12/2002 - 15h24

Inspeção da ONU em dia sagrado irrita iraquianos

da Reuters, em Bagdá

Especialistas da ONU (Organização das Nações Unidas) inspecionaram hoje o complexo industrial de Al Thawra, em busca de armas de destruição em massa. A visita, no dia da semana mais sagrado para os muçulmanos, irritou as autoridades iraquianas que acompanham a inspeção.

Foi a segunda sexta-feira consecutiva de trabalho para os inspetores. Pela primeira vez os técnicos que buscam armas químicas estiveram no local, a 20 quilômetros de Bagdá, já visitado várias vezes pelos inspetores de armas nucleares.

Faiz Biraqdar, assessor da Comissão Atômica Iraquiana, disse que a inspeção transcorreu normalmente, mas demonstrou irritação com a data escolhida. "O pior foi que não pudemos fazer nossas orações de sexta-feira. Isso não é correto", afirmou.



Na mais dura das críticas feitas até agora por uma autoridade à inspeção, Biraqdar disse que a visita a Al Thawra foi uma intromissão, que chamou de "neoterrorista". Até agora, as autoridades vinham elogiando os métodos dos inspetores.

O funcionário disse que os inspetores da ONU visitaram os departamentos químico e farmacêutico do complexo, onde, segundo ele, há pesquisas sobre câncer. "Não temos material nuclear, instalações, nada disso. Portanto não há atividade nuclear. É um centro de pesquisas, e fazemos trabalho de pesquisa para todos os ministérios."

O jornal do partido governista Baath, também chamado "Al Thawra", disse hoje que a inspeção da ONU já serviu para "revelar as mentiras e acusações do governo (do presidente norte-americano George W.) Bush e de seu aliado (britânico Tony) Blair."

Washington e Londres acusam o Iraque de fabricar armas de destruição em massa e ameaçam invadir o país se Bagdá não colaborar com os inspetores da ONU.

O editorial do "Al Thawra" desafiou os ocidentais a provarem suas acusações. "Se eles têm outras informações, como alegam, por que não as entregam para as equipes de inspeção?"

Segundo o jornal, "se os Estados Unidos e o Reino Unido reconhecessem que o Iraque não tem armas proibidas, seria não só um escândalo internacional como a destruição de todos os seus pretextos (para a guerra)".

Em suas primeiras declarações ao Conselho de Segurança da ONU a respeito do relatório sobre armas recém-entregue pelo Iraque, o inspetor-chefe Hans Blix disse que Bagdá ocultou informações sobre alguns agentes químicos e biológicos conhecidos, como o antraz. Segundo ele, o relatório foi "uma oportunidade perdida" para o Iraque.

Mas Blix também acusou os Estados Unidos e o Reino Unido de não compartilharem todas as informações que dizem possuir sobre o Iraque.

Mohamed ElBaradei, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, que também participa das inspeções, disse que o Iraque precisa fornecer mais dados sobre seus antigos programas nucleares, especialmente no que diz respeito a equipamentos já destruídos para a produção de bombas.

Ele disse que o Iraque vem cooperando com os inspetores, que voltaram ao país no mês passado, após quatro anos de ausência. "O Iraque está abrindo as portas para nós, está dando acesso imediato a todos os locais. Entretanto, ainda não encontramos o que precisamos em termos de evidências", disse ele.

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