Reuters
20/12/2002 - 17h49

Protestos na Argentina marcam um ano da revolta de 2001

da Reuters, em Buenos Aires

Milhares de argentinos foram para o centro de Buenos Aires hoje a fim de lembrar o primeiro aniversário dos violentos protestos que derrubaram o governo de Fernando de la Rúa no ano passado.

Os primeiros manifestantes se concentravam na histórica Praça de Maio, onde fica a Casa de Governo, enquanto grupos de desempregados que partiram de diferentes pontos do país planejavam chegar até o final da tarde ao Congresso e umas duas horas mais tarde à praça.

"A praça vai encher, mas esperamos que tudo fique tranquilo. A idéia é que seja um protesto calmo e que todo o povo possa vi", disse Gabriel Solano, porta-voz de um grupo de desempregados.

Até o meio da tarde, a manifestação ocorria sem incidentes graves.

As lojas protegeram suas vitrines com chapas de metal, a Casa Rosada foi isolada e a polícia tomou as ruas. O Banco Central argentino e a bolsa mantinham suas portas principais fechadas.

Grupos de pobres e desempregados bloqueavam estradas, e na frente de escritórios do Citibank e da Telefónica, na Grande Buenos Aires, houve de madrugada explosão de bombas que lançaram folhetos contra o FMI. Algumas vidraças foram quebradas.

Para evitar novos saques, como os ocorridos há um ano, muitos lojistas da capital argentina estão ostensivamente armados. Outros preferiram simplesmente não abrir as portas.

"As pessoas estão famintas e irritadas, e embora os protestos tenham sido pacíficos recentemente, nunca se sabe", disse a quitandeira Sandra, que pretendia acompanhar o movimento pelo rádio e fechar as portas ao primeiro sinal de tumulto.

Pobreza e insatisfação
Metade dos argentinos vive na pobreza atualmente, e no norte do país a desnutrição infantil já é uma realidade. O desemprego atinge mais de 20% da força de trabalho.

No bairro de classe média de Avellaneda, policiais com cassetetes cercaram supermercados e depósitos para evitar a ação dos manifestantes, que carregam faixas com o popular slogan "Que se vayan todos" -ou seja, "fora todos [os políticos]".

Os Estados Unidos e a Austrália aconselharam seus cidadãos a evitar o centro de Buenos Aires hoje.

O governo pediu calma. "Unimo-nos àqueles que não querem mais repressão, aos que lembram as vítimas [do ano passado]", disse o chefe de gabinete da Presidência, Alfredo Atanasof. "Estamos tentando sair desse inferno e endireitar as coisas".

Os tumultos de dezembro de 2001 acabaram provocando a renúncia do presidente De la Rúa, eleito em 1999. Em duas semanas, outros três presidentes interinos não resistiram à pressão e acabaram cedendo o lugar a Eduardo Duhalde, que marcou eleições para abril de 2003.

Protestos contra os bancos, o governo e o FMI são quase diários, embora pacíficos, nos últimos meses. Por causa dos bloqueios em ruas, as autoridades instalaram semáforos especiais para alertar os motoristas sobre interrupções do tráfego.

Para não chamar a atenção dos descontentes, alguns bancos chegaram a apagar os logotipos de suas fachadas. Muitos blindaram seus vidros com metal.

Alguns grupos políticos acusam o ex-presidente Carlos Menem, que deve se candidatar novamente ao governo, de tentar semear o caos na data do aniversário dos tumultos. Menem nega.

Na década passada, a Argentina era apontada pelo FMI como um exemplo de sucesso. Agora, porém, o país vive a pior recessão de sua história. Depois de o governo decretar a maior moratória da história, no começo do ano, a cotação peso caiu 70%.

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