Reuters
24/12/2002 - 10h54

Discurso mantém atualidade de "O Grande Ditador"

da Reuters, em São Paulo

"O Grande Ditador" (1940) volta aos cinemas amanhã, dia de Natal. Primeiro filme sonoro de Charles Chaplin, ficou famoso pelo discurso pacifista, que o mantém atual em face dos inúmeros conflitos assistidos pelo mundo todo.

Mas há uma curiosidade sobre o filme: a idéia original do diretor era a união de dois exércitos inimigos em um grande baile, uma sequência descartada pelo aperto no orçamento da produção.

Essa descoberta está no documentário "The Tramp and The Dictator", do britânico Kevin Brownlow, que também reúne imagens coloridas do clássico e cenas descartadas por Chaplin durante as filmagens, que foram encontradas no sótão da residência familiar de Vevey, às margens do Lago de Genebra, na Suíça.

Misticismo

Existe ainda uma certa lei mística que rege o cinema, da qual nasceu uma obra-prima incontestável cujo valor vai além da paródia sobre um dos períodos mais dramáticos da história, quando defende a liberdade, a solidariedade e a igualdade, e mostra a valorização do ser humano como caminho para a paz mundial.

Outra força "sobrenatural" foi responsável pela semelhança física entre Hitler e Chaplin que, além do bigode e do físico franzino, nasceram no mesmo ano, 1889, com apenas 4 dias de diferença.

O roteiro foi elaborado em 1939, enquanto a Alemanha nazista invadia a Polônia e dava início à 2ª Guerra Mundial. No filme, um barbeiro judeu (Chaplin) perde a memória durante a 1ª Guerra Mundial em um acidente no qual salva a vida do piloto militar Schultz.

Quando retorna à barbearia, anos depois, ele encontra a Tomânia sob o domínio do ditador Adenoyd Hynkel (Chaplin) e os judeus restritos ao gueto.

Hynkel, cuja imponência arranca saudações até de estátuas, planeja dominar o mundo, e o primeiro passo é invadir o país vizinho Osterlich. A estratégia também inclui o extermínio dos judeus, capturados e mandados aos campos de concentração.

O barbeiro judeu e o agora comandante Schultz, acusados de defender os interesses do povo perseguido vão presos. A dupla consegue fugir e, devido às semelhanças físicas, o barbeiro é confundido com o ditador e acaba discursando em seu lugar.

Das antológicas cenas do filme, é impossível não se emocionar diante daquela em que Hynkel brinca com o globo terrestre e chora como uma criança quando este estoura.

Não apenas essa mas outras sequências mostram o egocentrismo, a insegurança e a incapacidade de lidar com a contrariedade do ditador, que almeja um mundo formado apenas por arianos.

Censura no Brasil

"O Grande Ditador" foi censurado no Brasil pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), no governo de Getúlio Vargas, por ser considerado "comunista" e "desmoralizador das Forças Armadas".

A fita encontrou resistências também nos Estados Unidos e foi, em grande medida, responsável pela expulsão de Chaplin do país, uma década depois. Na época, ele desafiou: "Exibo este filme nem que tenha de comprar um cinema e seja o único espectador".

Mais de 60 anos depois, permanece a atualidade de "O Grande Ditador". Ainda hoje poderia o barbeiro judeu dizer: "Mais que máquinas, precisamos de humanidade (...) Pensamos demais e sentimos pouco".

E continuaria esperando que "a alma do homem ganhasse asas e afinal começasse a voar para o arco-íris, para a luz da esperança".
 

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