Reuters
24/12/2002 - 18h52

Enfraquecimento do turismo no Iraque reduz visitação a monumentos

HAITHAM HADDADIN
da Reuters, em Hatra (Iraque)

Poucos estrangeiros hoje em dia chegam a conhecer os tesouros arqueológicos do Iraque, como o antigo reino de Hatra, também conhecido como "cidade do Sol".

"Não há turistas", diz o chefe da guarda de Hatra, Ra'een Tareq. "Estrangeiros vêm, mas são poucos."

O sítio, feito de pedra cor de mel, está localizado no deserto noroeste do Iraque. Ele foi governado por reis árabes cristãos durante a vigência da rota da seda, antiga ligação entre o Ocidente e o Oriente.

Hoje, as muralhas carregam lembranças do atual governante do país, o presidente Saddam Hussein. Suas iniciais estão marcadas em milhares de pedras usadas na reconstrução da cidade.

O Iraque está repleto de tesouros históricos da era mesopotâmica até o nascimento do islamismo. Entre eles, há as mesquisas douradas de Najaf e Karbala e os palácios de Bagdá e Samarra. Porém, desde o fim da Guerra do Golfo, em 1991, e as sanções da ONU (Organização das Nações Unidas), o turismo nacional enfraqueceu até praticamente desaparecer.

Cidade de pedra
O início de Hatra é obscuro. Segundo o governo iraquiano, a cidade foi fundada em meados do século 2 a.C. Os iranianos afirmam que ela nasceu no século 3 d.C.

Hatra era a ligação entre cidades árabes como Palmyra, na Síria, Petra, na Jordânia, e Baalbek, no Líbano. A cidadela fica a 354 quilômetros de Bagdá e representa uma miscelânea das culturas orientais e ocidentais. A arquitetura possui influências grega, romana e persa. Há inscrições nas paredes em aramaico, língua usada por Jesus.

Uma inscrição em árabe afirma que os "reis e príncipes de Hatra são os reis vitorioso dos árabes". Entre os mais conhecidos, estão Sanatruq 1º e seu filho Abd Samia. O último rei teria sido Sanatruq 2º, cujo domínio teria acabado com a invasão de Hatra pelo rei sassaniano Shapur, no ano de 241.

No centro da cidade, há uma complexa estrutura onde estão os principais templos. Os maiores são o de Shamash (o deus Sol), construído por Sanatruq 1º, e o de Shahiro (estrela da manhã ou Vênus), um dos deuses de Hatra.

O complexo é rodeado por um muro interno de três quilômetros, defendido por outro muro maior com 171 torres de vigília. Os altos portões arqueados dos templos possuem imagens de cabeças humanas. O mármore branco ainda é visível.

A cidade possui quatro entradas, as quais correspondem aos pontos cardeais. Algumas paredes são decoradas com desenhos de águias, camelos e peixes.

As antigas caravanas que cruzavam a Mesopotâmia buscavam em Hatra água, diversão e negócios. Casas de banho e armazéns margeiam a parede sul, onde comerciantes trocavam informações, temperos, tapetes e seda. No templo de al-Saqaya (purificação), acontecia o banho dos mortos.

Reconstrução
Hatra sobreviveu ao tempo porque é um dos únicos monumentos iraquianos construídos de pedra calcária, transportada das montanhas Sinjar, na fronteira com a Síria.

As escavações arqueológicas tiveram início em Hatra, ou al-Hadhar, como é conhecido pelos iraquianos, no início da década de 50. Porém, apenas 15% do local foi estudado, com ênfase nos 14 templos.

Apesar disso, o trabalho de restauração continua. A qualidade do trabalho dificulta a distinção entre as pedras antigas das novas.

Empilhados no chão, há milhares de blocos de pedra e pilastras, todos numerados. Alguns serão usados na reconstrução de um anfiteatro do Parlamento, outros serão colocados na entrada principal da cidade.

Objetos encontrados em Hatra, como estátuas de ouro, prata e bronze, foram levados ao Museu Nacional Iraquiano, em Bagdá.
 

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