Protestos contra os EUA reúnem milhares no Paquistão
da Reuters, em IslamabadMilhares de paquistaneses protestaram hoje contra a presença de soldados dos Estados Unidos na região, contra um possível ataque norte-americano ao Iraque e contra o que um cartaz afirmava ser o "Holocausto de Muçulmanos".
Manifestantes também queimaram um boneco do presidente norte-americano, George W. Bush, durante protestos nacionais organizados pela coalizão radical muçulmana Muttahida Majlis e Amal (MMA), que avançou muito na eleição de outubro aproveitando-se do sentimento contrário aos Estados Unidos.
O maior ato reuniu, segundo a polícia, cerca de 2.000 pessoas na cidade de Multan. Quantidades similares reuniram-se em Lahore e Quetta, perto da fronteira com o Afeganistão, onde há forte oposição à ação dos EUA contra o movimento Taleban.
"A guerra continuará até a destruição de Bush", gritava a multidão em Multan, na populosa província de Punjab. "Bush está sedento de sangue muçulmano".
Em Peshawar, outra fortaleza anti-americana, os manifestantes queimaram um boneco representando Bush e gritaram "Não à guerra no Iraque".
Em Islamabad, capital do país, 800 homens se concentraram perto da Lal Masjid (Mesquita Vermelha). Um cartaz dizia "Holocausto dos Muçulmanos".
Mas a participação pode ter frustrado o grupo, em um país de 140 milhões de muçulmanos. Uma presença maior seria embaraçosa para o presidente Pervez Musharraf, aliado dos EUA em sua guerra ao terror.
O MMA, que ganhou o controle de uma província no norte do Paquistão e faz parte do governo de outra, tem clérigos favoráveis ao movimento Taleban em sua direção.
Musharraf disse que um ataque contra o Iraque teria repercussão negativa no mundo muçulmano. Uma série de ataques fatais contra alvos ocidentais e cristãos no Paquistão no ano passado foi creditada a militantes islâmicos contrários a sua posição pró-Estados Unidos.
Ressentimento
O ressentimento aumentou nos últimos dias, após a prisão de cinco pessoas em um caso envolvendo agentes do FBI que atuam no Paquistão.
Os militares norte-americanos também bombardearam um seminário religioso perto da fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão no fim de semana, após conflito entre um homem vestido com uniforme da guarda de fronteiras paquistanesa e soldados dos EUA, no qual um norte-americano foi ferido.
Em Islamabad, Maulana Samiul Haq, líder da escola religiosa que abrigou milhares de membros do grupo Taliban, pediu o enforcamento público de agentes do FBI que prendam supostos militantes em suas casas.
O vice-presidente do MMA, Qazi Hussain Ahmed, disse aos manifestantes em Peshawar: "Depois do Iraque será o Irã, e depois do Irã será o Paquistão, e depois da Arábia Saudita. Há a necessidade de todos os países muçulmanos darem as mãos e forjarem a união".
Hafiz Saeed, líder do grupo militante ilegal Lashkar-e-Taiba, disse em Multan que os muçulmanos estão sendo vitimizados.
"Muçulmanos, se vocês não abrirem seus olhos agora, serão dominados por judeus, cristãos e indianos", disse Saeed, que foi libertado de prisão domiciliar no ano passado.
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, disse: "Os paquistaneses e outros com certeza tem o direito de manifestar e expressar suas crenças políticas".
Ele disse que o Paquistão faz parte do consenso contra a posse de armas de destruição em massa pelo Iraque.
"Esperamos continuar com a cooperação com o Paquistão", disse.