Reuters
09/01/2003 - 17h15

Bancos e supermercados estão fechados na Venezuela

da Reuters, em Caracas

A Venezuela, abalada por uma prolongada paralisação de protesto contra o presidente Hugo Chávez, amanheceu hoje com muitos bancos e grandes supermercados fechados, enquanto persiste a escassez de gasolina e de gás de cozinha no quinto exportador mundial de petróleo.

A "paralisação cívica", que já completou 39 dias, está fazendo os venezuelanos passarem por dificuldades, especialmente por problemas causados pela drástica redução das atividades da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA).

A Federação de Trabalhadores Bancários (Fetrabanca) convocou ontem uma greve de 48 horas no setor a partir de hoje, com exceção da compensação de cheques para casos de emergência, como serviços médicos e compras em farmácias.

A convocação -parte da paralisação que exige a renúncia de Chávez e eleições antecipadas- foi acatada pela maior parte das entidades privadas, que respondem por quase 90% do sistema financeiro, com 78 mil funcionários. Somente algumas agências ficaram abertas, incluindo as das instituições estatais.

A convocação de uma paralisação bancária foi vista como uma nova batalha na guerra entre o governo e a oposição, que não conseguem entrar em um acordo sobre uma saída eleitoral para a crise. A Organização dos Estados Americanos (OEA) tenta mediar as negociações.

A greve, iniciada no dia 2 de dezembro, é promovida por dirigentes empresariais, sindicalistas e políticos de oposição, que acusam Chávez de tentar estabelecer um sistema comunista e de levar o país à ruína.

Mas Chávez, que chegou ao poder em 1999 com uma ampla vitória eleitoral, diz que só renuncia se esse desejo for determinado em um referendo, que pode ser convocado, segundo a Constituição, quando ele chegar à metade de seu mandato, no mês de agosto.

O Banco Central da Venezuela (BCV) anunciou que o leilão de dólares de hoje foi suspenso, mas manterá o fornecimento de divisas através de sua mesa de câmbio.

A medida foi tomada um dia após uma estrondosa queda do bolívar, quando a demanda por divisas disparou por causa de temores sobre um agravamento na crise do país por causa da greve bancária.

No fechamento do mercado de ontem, em que o bolívar chegou a cair a 1.646,57 por dólar, a depreciação da moeda venezuelana foi de quase 10%.

Grandes supermercados
A paralisação dos bancos fez com que a Associação Nacional de Supermercados e Afins (Ansa), que reúne grande parte das empresas distribuidoras e processadoras de alimentos, decidisse não abrir hoje.

Seu presidente, Nelson Da Gamma, afirmou à emissora "Unión Radio" que "provavelmente" o fechamento se estenda até amanhã, mas a decisão final será analisada em uma reunião.

No entanto, muitas lojas e mercados médios e pequenos, não afiliados à Ansa, abriram as portas, ainda que só tenham aceito pagamento em dinheiro, segundo alguns clientes.

De Gamma afirmou que os problemas de desabastecimento de alimentos e de outros produtos, como bebidas gasosas e cerveja, estão piorando e provocando especulação de preços, apesar de o governo ter importado toneladas de alimentos de vários países.

Nos postos de gasolina persistiam hoje as grandes filas, ainda que menores que há algumas semanas, por causa do esforço do governo em normalizar o abastecimento de combustíveis com importações e uma produção marginal, em uma refinaria local.

Também continuam a se formar filas de pessoas à procura de gás de cozinha, e já começam a surgir informações de incidentes envolvendo pessoas desesperadas, que tomam caminhões à força para conseguir combustível. A escassez do produto produziu um grande mercado negro, que levou os venezuelanos a pagar 15 vezes mais que o valor oficial por um litro de gasolina.

Aulas
Em muitas escolas de ensino fundamental e médio, especialmente as privadas, ainda não começaram as aulas depois das férias de Natal e Ano Novo. Em assembléias de pais e mestres, muitas escolas decidiram ficar fechadas até que a situação se normalize no país.

Algumas instituições privadas têm sido ameaçadas de sanções e multas pelo Ministério da Educação. Muitos centros escolares, bem como universidades públicas e privadas, avaliam diariamente a situação.

O protesto perdeu força no setor comercial, mas afetou as vendas de petróleo, responsável por cerca de metade da receita do governo, que caíram para menos de um quinto dos 2,7 milhões de barris diários vendidos em novembro.

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