Reuters
04/04/2001 - 22h13

Segundo turno pode dividir o Peru, dizem analistas

da Reuters, em Lima

A quatro dias das eleições mais imprevisíveis em uma década no Peru, a questão deixada pelas últimas pesquisas de opinião é se o candidato favorito, Alejandro Toledo, vai precisar de um segundo turno e, neste caso, quem ele vai enfrentar.

Alfredo Torres, chefe do instituto Apoyo, disse em uma entrevista coletiva que Toledo pode atingir até 45% dos votos nas eleições de domingo.

Sem a maioria absoluta, ele precisará enfrentar o segundo colocado em uma nova votação. Seu adversário nesse caso será a parlamentar centro-direitista Lourdes Flores ou o ex-presidente de esquerda Alan García.

As últimas pesquisas publicadas mostram Toledo com cerca de 40%, entre 13 e 16 pontos à frente de Flores. Ela, por sua vez, está apenas três pontos percentuais à frente de García. Com Flores estagnada e García em ascensão, a segunda vaga na próxima etapa está indefinida.

Se o centrista Toledo ficar pouco aquém de uma vitória imediata, um segundo turno pode criar mais problemas do que soluções entre um eleitorado polarizado, afirmam analistas.

``Toledo pode atingir 45 ou 46% por cento, mas não irá além. Um segundo turno pode ser muito difícil para o Peru, pois dividirá o país'', disse Manuel Torrado, chefe do instituto Datum.

Torres concorda: ``Se a diferença for muito grande, seria melhor que o segundo colocado aceitasse a derrota. Seria muito melhor para o país''. Ele acha, porém, esse cenário improvável.

García, que comandou um dos governos mais catastróficos da história do Peru, marcado por inflação galopante, violência de guerrilhas e filas diárias nos supermercados, tornou-se presidente em 1985, depois que seu rival Alfonso Barrantes concedeu a vitória. García tinha recebido 46% dos votos no primeiro turno, contra 22% de Barrantes.

Toledo sofre acusações de que teria uma filha ilegítima de 13 anos e de que teria tido um resultado positivo para cocaína em um exame feito após deixar um hotel com três mulheres, em 1998. Apesar de as denúncias não lhe custaram votos, elas podem impedir que ele vença no primeiro turno, segundo Torrado.

Suspense

Os resultados oficiais são esperados para a noite de domingo ou a manhã de segunda-feira. As urnas serão fechadas às 16h (18h em Brasília). Só então pesquisas de boca-de-urna poderão ser divulgadas.

Flores, que tenta se tornar a primeira mulher a governar o país, experimentou um grande crescimento em fevereiro, quando sua passagem para o segundo turno parecia certa.

Mas ela não consegui se distanciar das suspeitas de que o seu partido Unidade Nacional seja muito próximo do ex-presidente Alberto Fujimori, razão apresentada por 65% dos entrevistados em uma pesquisa da Universidade de Lima para não votar nela.

Fujimori, que ganhou um terceiro mandato em eleições marcadas por denúncias de fraude, há um ano, antecipou a sua sucessão em quatro anos, pressionado pelos graves escândalos de corrupção detonados por seu chefe da espionagem e homem de confiança, Vladimiro Montesinos.

Ele acabou sendo destituído pelo Congresso sob o argumento de ser ``moralmente inapto'' para o cargo, após fugir para o Japão, em novembro. Um governo de transição assumiu o poder.

É mais difícil prever o vencedor do pleito do próximo domingo do que foi em 1995 e 2000, quando Fujimori era claramente o favorito.

Na atual campanha, Toledo tem apelado para o seu status de ''cholo'' (como os mestiços de índios e europeus são conhecidos), apresentando Flores como representante da elite branca de Lima.

Segundo Torrado, os eleitores não se entusiasmam muito por nenhuma candidatura e estão dispostos a escolher ``um mal menor''.

Para Luis Benavente, da unidade de pesquisas da Universidade de Lima, os eleitores reprovam García por seu fracasso à frente do governo. Ser ``inconfiável'' é o principal defeito de Toledo, segundo eles.

García, que deixou o Peru em 1992 sob a acusação (depois retirada) de ter recebido US$ 1 milhão em propinas durante o governo, era tão mal visto em janeiro que, segundo o Datum, só 17% aceitavam a sua volta ao país. Mas ele transformou seu retorno em um episódio dramático e pode agora obter sucesso com sua Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra), o segundo maior partido do Congresso.

As pesquisas indicam que Flores teria alguma chance de vitória se fosse para o segundo turno, análise que torna mais difícil uma renúncia à candidatura. Mas seu partido só deve conseguir a terceira maior bancada do Congresso, elegendo 19 dos 120 deputados, segundo o Apoyo, um cenário em que seria muito difícil para ela governar.

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