Reuters
14/01/2003 - 18h22

Salvar animais atingidos por óleo é missão moral, diz brasileiro

PAULO EDUARDO DE VASCONCELLOS
da Reuters, em Porto Alegre

O veterinário brasileiro Rodolfo Pinho da Silva Filho, 38, do Centro de Recuperação de Animais Marinhos do Museu Oceanográfico do Rio Grande do Sul, voltou ao país há uma semana após trabalhar no salvamento de animais sujos de óleo na Espanha.

Um dos 15 integrantes da equipe de especialistas internacionais incumbida de salvar aves e animais marinhos atingidos pelo vazamento do petroleiro Prestige, Silva disse que apenas metade sobreviveu. "Dos mil animais resgatados, só 500 conseguiram ser salvos", afirmou o veterinário.

Ele foi para a Espanha no dia 19 de novembro logo depois do casco do petroleiro se partir em dois e o navio naufragar. Por 43 dias, o veterinário integrou uma equipe coordenada por Jay Holcomb, do Centro Internacional de Resgate de Aves em Risco (IBRRC), da Califórnia, Estados Unidos.

A primeira etapa do trabalho era estabilizar os animais. "Era preciso aquecê-los, hidratá-los e alimentá-los. Muitos não passaram dessa fase", conta. "Depois, eles eram lavados com uma mistura de detergente neutro e água. Só quando estavam alimentados e haviam recuperado forças, eram libertados."

O brasileiro considera qualquer animal morto nessas condições uma tragédia. "Nenhum animal mergulha quilômetros na terra para se banhar em petróleo. É o homem que provoca isso", afirma. "Nossa missão, portanto, é apenas moral."

Silva conta que os especialistas só voltaram para seus países depois de treinarem pessoal local, para que o tratamento dos animais continue.

Experiência
A missão na Espanha foi a 12ª no currículo do veterinário. A primeira experiência internacional foi em 1995, após um derramamento de petróleo atingir a África do Sul. Em 2000, ele voltou para o país africano, onde outro vazamento atingiu 20 mil pinguins sub-antárticos.

Formado em veterinária pela Universidade Federal de Pelotas (RS), Silva também participou da operação de salvamento de animais na baía de Guanabara em 2000.

Em 2001, estava em Galápagos. Mais de mil pinguins foram atingidos por petróleo. "Uma catástrofe ecológica não se mede só em números", disse o veterinário. "Na África do Sul, havia a última colônia no mundo de uma espécie de gaivotas. Se fosse atingida pelo óleo, hoje a espécie estaria extinta."

A estimativa da organização ecológica Sociedade Espanhola de Ornitologia/Birdlife é de que entre 10 mil e 15 mil aves tenham morrido em consequência do acidente com o Prestige.

O petroleiro está agora na costa da Galícia, noroeste da Espanha, a 3.500 metros de profundidade e com 50 mil toneladas de petróleo a bordo. Estima-se que haja 20 rachaduras no casco, por onde vazam 80 toneladas de óleo por dia.

  Veja galeria de fotos do acidente

Leia mais

  • Entenda o caso


  • Leia mais notícias de Ciência
     

    FolhaShop

    Digite produto
    ou marca