Reuters
19/01/2003 - 13h40

Líderes religiosos fazem manifesto conjunto pela paz no Iraque

da Reuters, no Vaticano

Líderes de religiões do mundo inteiro pediram aos fiéis de todos os credos que trabalhem no sentido de evitar um conflito no Iraque, ao mesmo tempo em que protestos antiguerra espalhavam-se por diversos países.

"Enquanto conflitos dividem vizinhos e nações e a ameaça de guerra paira sobre nós como uma sombra, gente demais vê e usa a religião como força de divisão e violência, e não como força de união e paz", afirmaram os representantes religiosos em um comunicado conjunto divulgado ontem, depois do fim de um simpósio.

O encontro, patrocinado pelo Vaticano, reuniu representantes cristãos, judeus, islâmicos, hindus e budistas, entre outros. Terminou enquanto manifestantes protagonizavam uma das maiores ondas globais de protestos antiguerra desde que os EUA e o Reino Unido começaram a juntar aviões e navios de guerra e dezenas de milhares de soldados na região do golfo Pérsico.

Os 38 líderes de 15 países que compareceram ao encontro de três dias pediram que se use diplomacia e persuasão para corrigir injustiças e responder a ameaças internacionais.

"Optar pela paz não significa condescendência passiva ao mal ou comprometimento de princípios. Exige luta ativa contra o ódio, a opressão e a desunião, mas não por meio de violência. A construção da paz requer ação criativa e corajosa", afirmou o comunicado.

Os Estados Unidos ameaçaram promover uma guerra contra o Iraque para forçar o país a se desfazer de seu suposto programa de armas nucleares, químicas e biológicas. A nação nega possuir tal arsenal.

O papa João Paulo 2º colocou o Vaticano em rota de colisão com os EUA ao condenar a possibilidade de guerra, declarando que o conflito pode ser evitado e que sua concretização seria uma "derrota para a humanidade". Falando a diplomatas na semana passada, o líder de cerca de 1 bilhão de católicos apostólicos romanos do mundo disse que o enfrentamento deve ser sempre a última opção.

Alguns dias depois, um jornal sancionado pelo Vaticano atacou os EUA, dizendo que a guerra teria motivos econômicos e que despertaria uma onda de terrorismo e instabilidade no Oriente Médio.

O papa, assim como outros líderes cristãos, deixou bem claro que não considerará um ataque ao Iraque como uma "guerra justa", o que, para a cristandade, significa que o uso da força militar deve atender a condições rigorosas de legitimidade moral. Para isso, todos os outros meios de negociação devem ser exauridos, e o tipo de força usada deve ser proporcional ao mal que tenta combater.

O cardeal Theodore McCarrick, de Washington, disse que a paz nunca será alcançada até que o mundo trate das "causas de raiz da guerra e do conflito" -segundo ele, as enormes diferenças entre pobres e ricos, a opressão das minorias e os "danos sociais da globalização".

O último dia do encontro foi maculado pela ausência do patriarca Michel Sabbah, a mais alta autoridade católica na Terra Santa. Ele é palestino e costuma criticar Israel, mas decidiu não partir em direção a Roma depois de passar por controles de segurança no aeroporto de Tel Aviv que, segundo ele, foram excessivos em se tratando de um diplomata.

O jornal do Vaticano acusou os agentes de segurança de Israel de não respeitar o passaporte diplomático do Vaticano.

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