Reuters
24/01/2003 - 19h51

Repórteres temem perder imunidade na guerra da Colômbia

da Reuters, em Bogotá

Apesar da violência do conflito na Colômbia, correspondentes estrangeiros gozavam de um tipo de imunidade diplomática e podiam movimentar-se livremente através do interior e entrevistar rebeldes e paramilitares após batalhas.

Mas um anúncio feito ontem por guerrilheiros, dizendo que sequestraram a repórter britânica Ruth Morris e o fotógrafo norte-americano Scott Dalton fez muitos pensarem que as regras do jogo mudaram.

A Colômbia é um dos lugares mais perigosos do mundo para repórteres, com pelo menos oito assassinatos destes profissionais por ano.

Mas seus nomes não ganharam as manchetes internacionais. Todos eram colombianos e trabalhavam para rádios locais, ou jornais em cidades pequenas.

Na verdade, muitos líderes guerrilheiros de esquerda e direita que lutam uma guerra de quatro décadas adoram posar para câmeras.

No ano passado, o Exército de Libertação Nacional (ELN), a segunda maior guerrilha colombiana e de orientação guevarista, convidou a agência Reuters para a mesma região para onde levou Morris e Dalton, na terça-feira (21).

Os líderes da guerrilha colocaram bandanas pretas e vermelhas para serem fotografados, organizaram uma entrevista pelo rádio com seus chefes escondidos na selva e serviram uma refeição de frango e feijão.

Em transmissão de rádio clandestina realizada ontem, o ELN disse que exige "condições políticas e militares" não detalhadas para libertar os dois jornalistas, que trabalhavam de maneira independente para o jornal "Los Angeles Times" na província de Arauca.

"Este pode ser um incidente que indica uma mudança na política dos guerrilheiros do ELN em relação à imprensa local e estrangeira", disse o jornalista colombiano Alvaro Sierra.

Libertações
Como outros repórteres na Colômbia, Sierra cruza os dedos para que os estrangeiros sejam libertados em breve e não sejam usados pelo ELN como barganha política em negociações com o presidente Alvaro Uribe.

"O ELN está se prejudicando ao mostrar que não se importa com a liberdade de imprensa", disse o vice-presidente colombiano, Francisco Santos, ex-jornalista que já foi sequestrado por meses pelo ex-barão das drogas Pablo Escobar.

Ontem, o grupo Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), principal esquadrão paramilitar de direita do país e responsável por milhares de mortes e pelos piores abusos dos direitos humanos na história colombiana, libertou um repórter canadense-americano sequestrado no fim de semana perto da fronteira com o Panamá.

"Passei momentos nervosos, mas em nenhum momento eles nos ameaçaram ou nos atingiram", disse Robert Young Pelton, correspondente de guerra e autor do livro "The World's Most Dangerous Places" (Os lugares mais perigoso do mundo). Ele foi libertado com dois companheiros norte-americanos.

Ainda não está claro o que ELN pretende com o sequestro.

"Eles podem pedir para os militares garantirem segurança na área que precisam para libertá-los. Outra possibilidade é terem enlouquecido e decidido sequestrar estrangeiros para pressionar pela saída dos soldados norte-americanos da área, ou algo assim", disse Leon Valencia, analista político que foi guerrilheiro do ELN.

Um grupo de 70 soldados de forças especiais dos EUA está em Arauca para treinar tropas locais para a proteção de um oleoduto operado pela firma norte-americana Occidental Petroleum.

O ELN sequestra centenas de pessoas por ano para levantar dinheiro para sua luta para impor uma reforma socialista na Colômbia. Mas, no caso de Morris e Dalton, o grupo não parece estar interessado em dinheiro.

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