Reuters
05/02/2003 - 11h58

Apesar de escândalo financeiro, Coréias testam estrada

da Reuters, em Kosong (Coréia do Sul)

A Coréia do Sul abriu hoje uma brecha na última fronteira da Guerra Fria, ao inaugurar uma estrada que chega até a Coréia do Norte. A festa, porém, foi ofuscada pelas suspeitas de que uma empresa sul-coreana deu dinheiro ao regime comunista do Norte em troca da realização da reunião de cúpula entre os dois países, em junho de 2000.

A nova rodovia cruza a Zona Desmilitarizada (fronteira) e chega ao monte Kumgang, na Coréia do Norte. A abertura da estrada é um dos destaques da "política ensolarada" pela qual Kim tentou, ao longo de seu mandato, ajudar financeiramente o vizinho do Norte e dele se aproximar politicamente.

Fotomontagem
O presidentes Kim Dae-jung (esq.), da Coréia do Sul, e Kim Jong-il, da Coréia do Norte
Mas na semana passada um tribunal de contas descobriu que o grupo Hyundai, que monopoliza o turismo Norte-Sul, teria dado 223,5 bilhões de won (US$ 191 milhões) ao governo do Norte para garantir a aproximação, o que acabou garantindo o Nobel da Paz ao presidente sul-coreano, Kim Dae-jung.

O partido governista pediu explicações ao presidente, e a oposição sugeriu a instalação de uma comissão de inquérito.

Apesar das denúncias, cerca de 80 autoridades e representantes da subsidiária Hyundai Asan lotaram dez ônibus para cruzar a fronteira e chegar ao monte Kumgang, onde a empresa opera um "resort" à beira-mar.

Aquele é o único ponto do país comunista aberto aos turistas sul-coreanos. A Hyundai já mantém desde 2001 uma linha de barcos, deficitária, até o monte Kumgang. A abertura da estrada foi possível graças a um acordo firmado em 2002. As comunicações por terra entre as duas Coréias estavam interrompidas desde 1950.

Segundo o tribunal de contas sul-coreano, a Hyundai Merchant Marine (braço do grupo que opera os barcos para Kumgang) fez o pagamento secreto ao governo norte-coreano pouco antes da reunião de cúpula ocorrida em junho de 2000.

Mesmo antes do escândalo, o esforço de Kim para se aproximar da Coréia do Norte já estava sob suspeita, por causa da decisão do regime comunista de retomar seu programa nuclear.

Uma porta-voz do presidente disse que Kim não deve se dirigir à nação para explicar as suspeitas de suborno. Mas o presidente eleito Roh Moo-hyun, aliado de Kim, pediu um total esclarecimento, até mesmo para que o escândalo não atinja seu governo, que toma posse em 25 de fevereiro.

"O presidente -ou as figuras diretamente envolvidas- devem fazer mais esforços para aparecer diretamente e revelar a verdade ao público e ao partido de oposição", disse Yoo In-tae, já nomeado chefe de gabinete de Roh.

Em reunião com seus ministros, cujo conteúdo foi divulgado pela Presidência, Kim não mencionou o escândalo, mas defendeu a "política ensolarada". "A tensão na península coreana foi enormemente relaxada, a primeira cúpula Norte-Sul aconteceu, houve mais de 70 rodadas de negociações intercoreanas, e o intercâmbio de bens e pessoas cresceu mais de 20 vezes", disse o presidente hoje.

Kim Dae-jung e o grupo Hyundai vêm negando quaisquer irregularidades. Eles argumentam que o dinheiro foi investido em um parque industrial sul-coreano no Norte. Kim disse que seria errado punir ações que preparam a reunificação coreana.

 

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