Apesar de escândalo financeiro, Coréias testam estrada
da Reuters, em Kosong (Coréia do Sul)A Coréia do Sul abriu hoje uma brecha na última fronteira da Guerra Fria, ao inaugurar uma estrada que chega até a Coréia do Norte. A festa, porém, foi ofuscada pelas suspeitas de que uma empresa sul-coreana deu dinheiro ao regime comunista do Norte em troca da realização da reunião de cúpula entre os dois países, em junho de 2000.
A nova rodovia cruza a Zona Desmilitarizada (fronteira) e chega ao monte Kumgang, na Coréia do Norte. A abertura da estrada é um dos destaques da "política ensolarada" pela qual Kim tentou, ao longo de seu mandato, ajudar financeiramente o vizinho do Norte e dele se aproximar politicamente.
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O presidentes Kim Dae-jung (esq.), da Coréia do Sul, e Kim Jong-il, da Coréia do Norte |
O partido governista pediu explicações ao presidente, e a oposição sugeriu a instalação de uma comissão de inquérito.
Apesar das denúncias, cerca de 80 autoridades e representantes da subsidiária Hyundai Asan lotaram dez ônibus para cruzar a fronteira e chegar ao monte Kumgang, onde a empresa opera um "resort" à beira-mar.
Aquele é o único ponto do país comunista aberto aos turistas sul-coreanos. A Hyundai já mantém desde 2001 uma linha de barcos, deficitária, até o monte Kumgang. A abertura da estrada foi possível graças a um acordo firmado em 2002. As comunicações por terra entre as duas Coréias estavam interrompidas desde 1950.
Segundo o tribunal de contas sul-coreano, a Hyundai Merchant Marine (braço do grupo que opera os barcos para Kumgang) fez o pagamento secreto ao governo norte-coreano pouco antes da reunião de cúpula ocorrida em junho de 2000.
Mesmo antes do escândalo, o esforço de Kim para se aproximar da Coréia do Norte já estava sob suspeita, por causa da decisão do regime comunista de retomar seu programa nuclear.
Uma porta-voz do presidente disse que Kim não deve se dirigir à nação para explicar as suspeitas de suborno. Mas o presidente eleito Roh Moo-hyun, aliado de Kim, pediu um total esclarecimento, até mesmo para que o escândalo não atinja seu governo, que toma posse em 25 de fevereiro.
"O presidente -ou as figuras diretamente envolvidas- devem fazer mais esforços para aparecer diretamente e revelar a verdade ao público e ao partido de oposição", disse Yoo In-tae, já nomeado chefe de gabinete de Roh.
Em reunião com seus ministros, cujo conteúdo foi divulgado pela Presidência, Kim não mencionou o escândalo, mas defendeu a "política ensolarada". "A tensão na península coreana foi enormemente relaxada, a primeira cúpula Norte-Sul aconteceu, houve mais de 70 rodadas de negociações intercoreanas, e o intercâmbio de bens e pessoas cresceu mais de 20 vezes", disse o presidente hoje.
Kim Dae-jung e o grupo Hyundai vêm negando quaisquer irregularidades. Eles argumentam que o dinheiro foi investido em um parque industrial sul-coreano no Norte. Kim disse que seria errado punir ações que preparam a reunificação coreana.