Reuters
19/02/2003 - 22h09

Bové apela por perdão de Chirac para não voltar para a cadeia

da Reuters, em Paris

O agricultor radical francês Jose Bové, que se tornou celebridade mundial por sua luta contra a comida de lanchonetes (junk food) e a globalização, está no centro de uma nova batalha -pelo perdão presidencial para livrá-lo de passar mais de um ano na cadeia.

José Bové
Folha Imagem - 3.fev.2002
José Bové, líder camponês francês e um dos líderes do movimento antiglobalização
Em carta enviada hoje ao presidente Jacques Chirac, oito sindicatos franceses, incluindo a Confederação Paysanne, da qual Bové faz parte, imploraram para o líder francês perdoar Bové por ter destruído campos de plantações geneticamente modificadas em um protesto há muitos anos.

Os grupos dizem que os ataques de Bové em campos de teste de trigo e arroz transgênicos em 1998 e 1999, que levaram à condenação do ativista a 14 meses de cadeia, não deveriam ser considerados vandalismo, mas sim uma tentativa de expressar a oposição dos agricultores às plantações de transgênicos.

"Esta ação tem um impacto global porque ecoa preocupações legítimas entre cidadãos sobre a globalização das nossas economias. O mundo viu a França e os franceses como defensores de uma idéia certa sobre a humanidade, sobre o meio ambiente", escreveram.

Bové, que fuma cachimbo e tem um farto bigode, já foi chamado de Robin Hood da França. Ele passou seis semanas preso no ano passado por ter atacado uma lanchonete McDonald's em protesto contra as taxas impostas pelos Estados Unidos em retaliação à proibição da União Européia à importação de carne norte-americana tratada com hormônios.

Na carta a Chirac, os sindicatos dizem que prender Bové por seu protesto contra os transgênicos atingiria sua imagem de cidadão preocupado e que expressa preocupações compartilhadas por muitas pessoas no mundo.

Apesar de a suprema corte da França ter rejeitado a apelação de Bové em novembro, uma corte da cidade de Montpellier deverá decidir no final de fevereiro quando ele deverá cumprir a sentença de 14 meses. Somente um perdão presidencial pode evitar sua prisão.

As plantações transgênicas são comuns nos Estados Unidos, mas a França e outros países da Europa continuam suspeitando delas. Pesquisas de opinião mostram grande resistência pública à tecnologia.

Simpatizantes dizem que os transgênicos podem ajudar a alimentar os pobres do mundo. Oponentes afirmam que podem prejudicar seres humanos e a vida selvagem ao desencadear uma disseminação descontrolada de genes modificados.

O apelo de Bové tem muito apoio. Em janeiro, um grupo de atores, cientistas e políticos da França destruiu um campo de testes de sementes de canola transgênica perto de Paris, em demonstração de apoio ao ativista.

Bové disse à agência Reuters que mais de meio milhão de franceses e estrangeiros escreveram cartas a Chirac em seu benefício.

"Eu pessoalmente nunca pedi nada ao presidente, mas cerca de 600 mil pessoas enviaram cartas em meu benefício. O debate agora é político. Cabe ao presidente decidir", disse.
 

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