Reuters
27/02/2003 - 11h28

Agências humanitárias temem epidemias no Iraque

da Reuters, em Genebra

Agencias humanitárias temem a ocorrência de epidemias no Iraque caso, em uma guerra, os Estados Unidos ataquem a já precária infra-estrutura do país, como usinas elétricas.

Atualmente, cerca de 5 milhões de iraquianos (20%) não têm acesso a água potável, o que, junto com a falta de saneamento básico, é a principal causa da elevada mortalidade infantil no país, segundo especialistas.

O bombardeio a usinas elétricas, que já aconteceu na Guerra do Golfo (1991), interromperia o funcionamento dos equipamentos que garantem o abastecimento de água e a coleta de esgoto. Isso pode levar a surtos de diarréia, cólera e febre tifóide.



"É uma grande preocupação, porque há uma ligação direta entre água potável e índices de doenças", disse Wivina Belmonte, porta-voz do Unicef (órgão da ONU para a infância), em Genebra.

Ela disse que a situação da saúde pública no Iraque "já é alarmante", e que o Unicef tem planos de emergência para os serviços de água e esgoto no país em caso de guerra.

Mas analistas militares duvidam que, desta vez, os Estados Unidos e seus aliados britânicos bombardeiem instalações civis. Isso provocaria ainda mais a indignação da opinião pública mundial e, uma vez vencido o conflito, acarretaria mais gastos com reconstrução.

"Eles não vão repetir o erro da Guerra do Golfo, que foi exagerar nas mortes. Eles não vão tentar destruir a infra-estrutura e criar o caos", disse Mohammad-Ali Zainy, analista iraquiano do Centro Global de Estudos Energéticos.

A Convenção de Genebra, que estabelece regras para as guerras, proíbe explicitamente o ataque a instalações civis, como usinas de tratamento de água, a não ser que elas comprovadamente tenham fins militares específicos.

Apesar disso, as armas mais modernas permitem, por exemplo, que uma usina elétrica fique temporariamente desativada, sem com isso provocar danos graves à infra-estrutura. Dessa forma, o serviço pode ser retomado rapidamente ao final da guerra.

A falta de energia atingiria não só os serviços de água e esgoto, mas também o trabalho dos hospitais, cujos geradores não teriam muita autonomia caso haja escassez de combustível no Iraque, segundo o Unicef.

Passados 12 anos da Guerra do Golfo, a infra-estrutura iraquiana ainda não foi recuperada. Segundo o Unicef, o acesso à água potável em Bagdá, que era de 330 litros diários per capita em 1990, caiu para 150 litros em 2000. Em algumas zonas rurais a queda foi de 180 para 65 litros.

Além disso, o sistema de saneamento básico em Bagdá, onde vivem cerca de 25% dos iraquianos, opera com apenas 40 por cento da sua capacidade prevista. Por essa razão, segundo o Unicef, diariamente 500 mil toneladas de esgoto vão parar nos rios e córregos da cidade.

"A situação é muito pior do que em 1991", disse Robert Mardini, coordenador regional da Cruz Vermelha para saúde e habitação. "Não só a infra-estrutura foi deteriorada como a população cresceu", disse.

Especial
  • Saiba mais sobre a crise EUA-Iraque

     
  • FolhaShop

    Digite produto
    ou marca