Reuters
28/02/2003 - 15h20

Cineasta registra os anos dourados do britpop

da Reuters, em Londres

Quem se lembra de quando o Oasis fazia grandes álbuns, a moda britânica reinava nas passarelas internacionais e as Spice Girls dominavam as paradas de sucessos em todo o mundo?

Por um breve momento em meados dos anos 1990, a Grã-Bretanha foi o lugar mais "cool" onde se podia estar, Londres voltou a ser a "swinging London" de décadas anteriores e o "britpop" foi a música triunfal de uma nova geração.

Alguns anos depois de tudo isso cair por terra, o diretor inglês John Dower lançou um olhar carinhoso sobre o momento mais "cool" vivido pela Grã-Bretanha desde os anos 1960, em "Live Forever", documentário que ele escreveu e dirigiu e cujo título tirou de um single fundamental do Oasis.

"Na Grã-Bretanha de meados dos anos 1990, a música era maravilhosa, nossa arte e nossa moda eram reconhecidas em todo o mundo, e tudo se interligava e somava para gerar um clima e uma sensação especial", disse Dower, 32, em entrevista concedida em seu escritório em Londres.

"Live Forever", que inclui longas entrevistas com os maiores nomes do britpop -Noel e Liam Gallagher, do Oasis, Jarvis Cocker, do Pulp, e Damon Albarn, do Blur- documenta a "Cool Britannia" dos anos 1990, desde seu nascimento movido a drogas até sua morte repentina.

O filme afirma que a queda da primeira-ministra Margareth Thatcher, em 1990, e o suicídio do ícone grunge norte-americano Kurt Cobain, em 1994, foram os fatos que abriram um espaço musical e político suficiente para que uma nova cultura britânica pudesse florescer.

Um terceiro elemento -o ecstasy ou "droga do amor", presença constante nas raves -acrescentava um toque extra ao cenário pop.

"A Grã-Bretanha era um lugar horrível para se estar nos anos 1980. Para quem era jovem e curtia música e cultura pop, era um lugar alienante, devido à primeira-ministra Thatcher", contou Dower.

"De repente, nos anos 1990, surgiram uma música e um estilo cheios de confiança. As bandas começaram a fazer música realmente britânica, em parte como reação contra a música americana, especialmente o domínio do grunge", prosseguiu.

Spice Girls

"Live Forever" documenta a briga alimentada pela mídia entre o Blur e o Oasis e também fala das Spice Girls, a banda de meninas que surfou a onda da "Cool Britannia" até chegar ao topo das paradas de música e cinema.

Quando Tony Blair e o Partido Trabalhista chegaram ao poder, em 1997, a revolução dava a impressão de ter sido ganha. Na realidade, porém, o fim já estava perto.

"Quando ela terminou, foi muito rapidamente. Acho que a morte da princesa Diana, em agosto de 1997, foi um fato muito significativo", disse Dower.

"Tínhamos uma atitude rock and roll, mas quando Diana morreu, o sentimentalismo passou a dominar. Tivemos Elton John e Robbie Williams, que virou o novo som da Grã-Bretanha mais 'amorosa' e, em última análise, mais chata e sem graça."

Hoje, o Oasis já não é a potência musical que foi no passado, e Damon Albarn, do Blur, lidera manifestações pacifistas contra a atitude belicista de Tony Blair em relação ao Iraque.

Talvez seja Noel Gallagher quem melhor tenha resumido a morte rápida do britpop e o caso de amor atual do país com as bandas manufaturadas pela televisão: "Os coreógrafos passaram a dominar o mundo", disse ele no documentário.

"Live Forever" estréia nos cinemas britânicos em março. Dower espera poder lançar o filme também na América do Norte e no resto da Europa.
 

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