Reuters
05/03/2003 - 14h56

Stálin é reverenciado na Rússia meio século após a sua morte

da Reuters, em Moscou

Centenas de russos enfrentaram o frio hoje para lembrar, numa cerimônia na praça Vermelha, os 50 anos da morte do líder comunista Josef Stálin. Muitos disseram que gostariam de ver outra vez alguém com seu pulso firme no governo.

A maioria levou flores vermelhas para o túmulo daquele que talvez tenha sido o mais sanguinário dos governantes russos. Nos quase 30 anos em que governou, Stálin recorreu a assassinatos em massa, campos de concentração e migrações forçadas para controlar a oposição. Alguns historiadores dizem que seu regime matou 20 milhões de pessoas.

"Stálin era um grande político, diplomata, estadista e comandante militar. A era Stálin não pode ser vista só como um momento de repressão", afirmou o presidente do Partido Comunista, Gennady Zyuganov.

Os comunistas ainda são uma força política importante na Rússia -nas últimas eleições gerais, conseguiram 30% dos votos. Mas eles ainda não conseguem superar a popularidade do presidente Vladimir Putin.

Atualmente, o partido conquista simpatizantes entre os mais pobres, que se sentem prejudicados pelo processo de abertura rumo ao capitalismo. O país que durante décadas combateu a propriedade privada hoje tem a quarta maior coleção de bilionários do planeta -17, segundo a revista Forbes, todos surgidos nos últimos três anos.

Uma pesquisa publicada nesta semana mostrou que pouco mais de metade da população acha que Stálin teve um papel importante na história nacional, principalmente por causa da vitória sobre a ocupação nazista, em 1945.

Mas um quarto dos entrevistados o descreve como um líder "cruel, desumano, tirano, culpado do assassinato de milhões de pessoas".

"A veneração a Stálin hoje é resultado do fracasso das reformas democráticas", afirmou o acadêmico Saltan Dzarasov ao jornal Kommersant. O aposentado Anatoly Semyonov faz parte dessa legião de frustrados. "No tempo da guerra, havia a firme convicção de que a cada ano as coisas melhoravam, os preços caíam, ficava tudo cada vez melhor; agora é cada vez pior", afirmou.

Semyonov fez hoje todo o ritual na praça Vermelha, primeiro visitando a múmia do revolucionário Vladimir Lênin, exposta num mausoléu. Em seguida, ele depositou flores no túmulo de Stálin, que fica na muralha do Kremlin, ao lado das sepulturas de outros heróis nacionais.

Um homem se ajoelhou em frente à tumba e fez o sinal da cruz, um gesto estranho, levando em conta que o homenageado era um convicto defensor do ateísmo e ordenou a destruição de muitas igrejas.

Um dos raros jovens na cerimônia era Sasha Zolkin, 14. Na fila para deixar sua flor, ele admitia que Stálin "teve muitos pecados, mas eles eram justificados". "Ele suprimiu aqueles que roubaram, os que queriam regredir aos tempos czaristas. Os inocentes não sofreram", afirmou.
 

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