Reuters
06/03/2003 - 12h29

Atores de Hollywood que condenam a guerra enfrentam críticas

da Reuters, em Los Angeles

Vários atores de Hollywood estão enfrentando reações de crítica extrema por manifestarem sua oposição à guerra contra o Iraque e falam na volta do fantasma do macarthismo, num apelo contra o retrocesso para um dos períodos mais sombrios do cinema norte-americano.

O sindicato norte-americano de atores do cinema e da televisão, Screen Actors Guild (SAG), disse que a onda de mensagens de ódio recebidas por atores que se declararam publicamente contra a guerra, somada aos pedidos de boicote de filmes e álbuns divulgados nas rádios nacionais e na internet, "sugere que algumas pessoas estão ignorando as lições da história".

"Deploramos a idéia de que pessoas conhecidas publicamente devam sofrer profissionalmente por ter a coragem de expressar suas posições. Nem mesmo o menor indício de lista negra pode ser tolerado novamente neste país", disse o SAG em comunicado à imprensa.

O comunicado foi divulgado em resposta à crescente onda de insultos lançados contra celebridades norte-americanas que expressaram publicamente sua oposição à corrida à guerra, em programas de TV difundidos nacionalmente, entrevistas, comerciais de TV contra a guerra e participando de manifestações em massa.

O ator Martin Sheen, que faz o fictício presidente dos Estados Unidos Josiah Bartlet no seriado "The West Wing", vem sendo alvo de críticas acirradas desde que se tornou o principal porta-voz da coalizão contrária à guerra.

Em entrevista concedida esta semana ao jornal "The Los Angeles Times", Sheen disse que já chegou a ser pedida sua demissão do seriado e que executivos da NBC, que o transmite, já expressaram a título reservado o temor de que o furor todo possa prejudicar a audiência do programa.

Ele contou que vem tendo o apoio total dos profissionais do programa, mas que os altos executivos da rede "já deixaram claro que estão se sentindo muito incomodados com o que estou fazendo".

A NBC disse que as posições pessoais de Martin Sheen não têm nada a ver com o programa. "Martin Sheen está agindo como cidadão particular. Respeitamos sua opinião e seu direito à liberdade de expressão", disse a rede, em comunicado à imprensa.

Vergonha do macartismo

A SAG disse que a idéia de que "pessoas conhecidas que expressam pontos de vista 'inaceitáveis' devem ser punidas, perdendo seu direito ao trabalho" é chocante e lembra o Comitê de Atividades Antiamericanas do Congresso, dos anos 1950, dirigido pelo senador Joseph McCarthy.

Naquela época, mais de 320 pessoas, incluindo o dramaturgo Arthur Miller, os cineastas Orson Welles e Charles Chaplin, o escritor Dashiell Hammett e o músico Paul Robeson, tiveram seus nomes incluídos numa lista negra de pessoas impedidas de trabalhar na indústria do entretenimento, em função de pontos de vista considerados de esquerda ou pouco patrióticos.

A SAG qualificou esse período como vergonhoso e disse que o setor do entretenimento hoje tem o dever de proteger o princípio constitucional da liberdade de expressão, em lugar de "prostrar-se diante de campanhas de vilificação e caça às bruxas", como fez 50 anos atrás.

Além de Martin Sheen, já foram criticados como sendo pouco patrióticos o ator Sean Penn (que foi a Bagdá em janeiro), a cantora Sheryl Crow e dezenas de outras personalidades.

Uma das pessoas que subscreveu o abaixo-assinado online "Cidadãos Contra Celebridades que Opinam" disse: "Não assistirei a seus filmes. Não apoiarei seus programas de televisão. Não comprarei sua música. Minha família e eu vamos boicotar qualquer pessoa de Hollywood até que ela decida que seu trabalho tem valor unicamente de entretenimento".

O site G.I.Jargon.com, que representa policiais, bombeiros e militares norte-americanos, tachou as celebridades de "talebans" e pediu o boicote de "pessoas antiamericanas no mundo do entretenimento".

A professora de história Ellen Schrecker, especialista na era do macarthismo, disse que o discurso contrário às celebridades que fazem campanha contra a guerra pode ser presságio de uma volta à era das listas negras e caça às bruxas.

"É muito importante posicionar-se publicamente contra isso, como fez o SAG", disse.
 

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