Saiba mais sobre o premiê sérvio assassinado em Belgrado
da Reuters, em BelgradoO primeiro-ministro sérvio, Zoran Djindjic, 50, assassinado hoje, foi um político reformista que desempenhou um papel de peso na deposição de Slobodan Milosevic da Presidência iugoslava.
O político de 50 anos morreu em um hospital pouco depois de ser baleado duas vezes por tiros de grosso calibre.
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O premiê Zoran Djindjic |
O dirigente sérvio sugeriu então que o incidente havia sido uma tentativa de assassinato, uma resposta a seus esforços para combater o crime organizado, que se fortaleceu bastante no governo de Milosevic. O ex-presidente é julgado atualmente em Haia (Holanda) por crimes contra a humanidade e genocídio.
Detido como dissidente nos anos 1970, quando era estudante, e tendo tido pouco sucesso como líder de manifestações ocorridas nos anos 1990, Djindjic voltou à cena em 2000 em um levante popular para se tornar primeiro-ministro de uma Sérvia democrática.
Um reformista moderado partidário de medidas liberalizantes, Djindjic, que subiu ao poder em meio à crise na Província de Kosovo, tentou combater a corrupção e o crime organizado.
Seu governo viu-se diante do desafio de sufocar as ambições separatistas dos moradores de origem albanesa de Kosovo e de negociar o fim da Iugoslávia com a formação de uma aliança ao lado da República de Montenegro.
O premiê também entrou em choque com o sucessor de Milosevic, Vojislav Kostunica, hoje ex-presidente. A coalizão de 18 partidos rachou depois de a legenda liderada por Kostunica, de esquerda, tê-la abandonado.
Filósofo e político
Djindjic, filho de um oficial do Exército do Povo da Iugoslávia, nasceu em Bosanski Samac, na Bósnia. No cenário político, estava sempre pronto a tiradas contundentes, usava o cabelo grisalho bem cortado e vestia ternos elegantes.
O premiê formou-se em filosofia na Universidade Belgrado. Foi detido pelo governo do ditador comunista Josip Broz Tito em 1974 por tentar organizar um grupo independente de estudantes. Depois de libertado, viajou até a Alemanha Ocidental para fazer um doutorado em filosofia.
Em 1989, voltou para Belgrado e fundou, com outros companheiros, o Partido Democrático, que liderou. O partido pertenceu à aliança reformista Oposição Democrática da Sérvia (DOS).
A legenda, a maior da DOS, ficou com 12 por cento dos votos nas eleições de 1993 e seus simpatizantes o chamavam de o "Kennedy da Sérvia". Por volta dessa época, o político abandonou seu visual mais descontraído, cortou o rabo de cavalo e passou a usar ternos da moda.
Depois das eleições daquele ano, Djindjic chegou a manter negociações com Milosevic. Membros de destaque do partido dele o deixaram, acusando o futuro premiê de sacrificar seus ideais democráticos em nome de uma sede de poder. As negociações fracassaram e o político ficou fora do poder.
Em 1996, Djindjic formou o bloco reformista Zajedno (Juntos), aliando-se a Vuk Draskovic e a Vesna Pesic. Começaram então as grandes manifestações populares, deflagradas pela anulação do pleito municipal em que o partido de Milosevic saiu derrotado.
Os três estiveram à frente de passeatas e comícios que reuniram até 500 mil pessoas por dia e que aconteceram durante 88 dias. Milosevic acabou reconhecendo a vitória da oposição em várias das cidades da Sérvia.
Djindjic tornou-se prefeito de Belgrado, mas Milosevic sabotou as prefeituras dos reformistas cortando-lhes as verbas. O Zajedno, tomado por disputas entre seus líderes, esfacelou-se na metade de 1997 e Djindjic perdeu o cargo de prefeito em setembro.
Depois dos bombardeios ocidentais realizados para colocar fim à campanha de repressão étnica em Kosovo, Djindjic formou a DOS com outros 17 partidos e lançou uma nova cruzada popular em defesa da democracia.
No final de 2000, Milosevic acabou destituído do cargo ao não admitir sua derrota nas urnas para Kostunica.