Reuters
17/03/2003 - 19h29

Annan ordena retirada de funcionários da ONU do Iraque

da Reuters, em Nova York

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, ordenou nesta segunda-feira a retirada dos funcionários da ONU do Iraque após Estados Unidos,
Reino Unido e Espanha terem abandonado os esforços para obter apoio por ação militar e apontarem a França como culpada.

Ao mesmo tempo, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, deu um ultimato ao presidente do Iraque, Saddam Hussein, para sair do país ou enfrentar uma guerra liderada pelos EUA. Mas o embaixador do Iraque na ONU, Mohammed Aldouri, disse que isso é um erro, pois a guerra afetará milhões de iraquianos civis.

Os anúncios aconteceram no momento em que membros do Conselho de Segurança estavam em reunião secreta para debater a crise iraquiana e funcionários da ONU, diplomatas estrangeiros e jornalistas deixavam o Iraque.

Mas o drama não terminou nas Nações Unidas. A França propôs um encontro de ministros do Exterior na quarta-feira para ouvirem um relatório do chefe dos inspetores de armas, Hans Blix, que já estava programado. Ele falará sobre as tarefas de desarmamento que faltam ao Iraque. Mas não está claro quem participará da reunião, apesar de Rússia, Alemanha e outros países terem dito que seria uma boa idéia.

"Se ainda há uma chance para a paz, deve ser debatida em nível ministerial", disse o embaixador francês Jean-Marc de la Sabliere.

O embaixador alemão Gunter Pleuger disse que mesmo se houver "1% de chance de manter a paz é necessário fazer um esforço de 200 por cento neste sentido".

Annan anunciou que está retirando cerca de 300 inspetores de armas e trabalhadores do setor humanitário, além de mais de 1.000 pessoas que fazem parte de tropas de manutenção da paz na fronteira entre o Kuait e o Iraque. Jornalistas e diplomatas estrangeiros também começaram a deixar Bagdá. Os inspetores foram vistos fechando as contas em hotéis.

"Vamos retirar os inspetores da Unmovic e da agência atômica. Vamos retirar os trabalhadores humanitários da ONU", disse Annan, em referência à agência de inspeção comandada por Blix.

Annan disse que o programa de troca de petróleo por comida será suspenso, pois a equipe administrativa sairá do Iraque. O programa permite que o Iraque venda petróleo sob supervisão da ONU e compre alimentos, remédios e outros suprimentos com os lucros.

Fim do caminho

"Parece que estamos no fim do caminho aqui", disse Annan a repórteres. "Acho que quase todos os governos e povos ao redor do mundo esperavam que este assunto pudesse ser resolvido pacificamente".

"No sentido de que não somos capazes de fazer isso pacificamente, obviamente é uma decepção e um dia triste para todos", disse Annan, reiterando que não tem planos de ir a Bagdá.

A decisão de não colocar em votação uma resolução autorizando o uso da força foi uma derrota diplomática para os Estados Unidos e o Reino Unido no Conselho de Segurança da ONU. Eles culparam a França.

Mas a França disse que foi apontada como culpada porque Estados Unidos e Reino Unido não conseguiram o mínimo de nove votos necessários para a adoção do texto.

"Os co-patrocinadores fizeram algumas consultas bilaterais na noite passada e nesta manhã e o resultado é que a maioria do conselho confirmou que não quer autorizar o uso da força", afirmou de la Sabliere.

Mesmo assim, o embaixador britânico na ONU, Jeremy Greenstock, que anunciou a retirada da resolução, disse que os dez membros do Conselho em um ponto ou em outro desejariam apoiar nossa posição.

"Mas quando souberam que haveria um veto, não havia necessidade de enfrentarem custos domésticos ou internacionais que poderiam surgir se apoiassem uma resolução dos Estados Unidos e do Reino Unido", destacou Greenstock.

O embaixador dos EUA, John Negroponte, disse que a votação seria apertada.

"Lamentamos que em face de uma ameaça explícita de veto, a contagem dos votos tornou-se uma consideração secundária", disse.

Após semanas de diplomacia, o governo Bush terminou com somente um apoio público declarado, da Bulgária. Entre os seis países indecisos, o Chile anunciou publicamente sua oposição à proposta.

O embaixador do Iraque na ONU, Aldouri, disse que a questão não é o que Saddam fará ou deixará de fazer.

"É questão do povo do Iraque, não do presidente. Toda a sociedade está em perigo. Nossas crianças serão mortas. Nossas mulheres serão mortas. Nossa sociedade será destruída. Não é questão de uma pessoa, mas de 25 milhões", disse Aldouri.

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