Reuters
18/03/2003 - 17h32

Análise: EUA querem ataque rápido para atordoar iraquianos

NICHOLAS PHYTIAN
da Reuters, em Dubai

Pode ser que tudo seja muito diferente da Primeira Guerra do Golfo, em 1991, exceto o resultado.

Naquela ocasião, uma coalizão militar muito mais ampla que a atual "amaciou" os militares iraquianos durante cinco semanas, até expulsá-los do Kuait. Desta vez, as tropas norte-americanas e britânicas esperam gastar pouco tempo na invasão, já que ela deve ser auxiliada por um grande arsenal de bombas e mísseis inteligentes.

Os estrategistas norte-americanos apostam em uma operação de choque para garantir a vitória rápida. Paralelamente, segundo estrategistas, as tropas terrestres vão começar a avançar para o norte, a partir do Kuait, rumo a Bagdá.

"Acho que a fase área e a fase terrestre do ataque vão começar praticamente ao mesmo tempo -não haverá uma pausa de algumas semanas entre elas", disse François Heisbourg, da Fundação de Pesquisas Estratégicas, da França.

Os analistas acham que o uso conjunto dos poderosos e precisos mísseis Tomahawks e das bombas inteligentes terão sobre os iraquianos o mesmo efeito psicológico de um ataque nuclear, isolando Saddam Hussein e empurrando seu Exército à submissão.

Alguns afirmam que a tecnologia bélica norte-americana, muito mais eficiente hoje do que em 1991, aliada ao uso intensivo de tropas especiais, vai garantir um final rápido para o conflito. Em 1991, a guerra durou seis semanas.

Mas o próprio Saddam discorda. Ele rejeitou o ultimato de 48 horas imposto por Bush para que ele e seus filhos deixassem o Iraque e prometeu surpreender os norte-americanos nos campos de batalha e nas ruas de Bagdá.

O regime iraquiano conta com o grande contingente do seu Exército e com o forte sentimento antiguerra no Ocidente para tentar impedir o avanço dos EUA rumo a Bagdá ou à cidade natal de Saddam, Tikrit, 150 quilômetros a noroeste da capital.

"Não parece que a guerra vá levar muito tempo", disse Holger Mey, chefe do Instituto de Análises Estratégicas, com sede na Alemanha. "Entretanto, não sabemos o que pode acontecer se houver batalhas nas ruas, e também não sabemos que cartas Saddam pode jogar. Ele está encurralado e não tem nada a perder. Poderia usar armas química e dirigi-las contra Israel", afirmou.

O analista russo Pavel Felgenhauer espera menos dificuldades para os EUA. "Basicamente, Bagdá está facilmente ao alcance. Os norte-americanos têm total superioridade aérea, nem precisam lutar por isso".

Para as tropas terrestres, uma das principais tarefas será vigiar os poços de petróleo para que os aliados de Saddam não os incendeiem, como fizeram em 1991. Pára-quedistas devem se concentrar na cidade de Basra, um importante centro petroleiro, e nos poços do sul do país.

Pausa para rendição

Os analistas acham, entretanto, que o ataque pode parar por alguns dias para que Saddam tenha uma última chance de se render, o que evitaria uma sangrenta batalha em Bagdá.

Um dos grandes desafios, segundo os especialistas, é conquistar o norte do Iraque, tarefa que ficou mais difícil por causa da relutância da Turquia em ceder seu território para isso.

"Os EUA ainda têm a capacidade de abrir uma frente de combate no norte usando a 101ª Divisão Aerotransportada (16 a 17 mil homens) e seus helicópteros", disse Ian Kemp, da revista Jane's Defence Weekly. Os soldados transportados dessa maneira poderiam, por exemplo, proteger os poços petrolíferos na região de Kirkuk.

Além disso, os EUA devem contar com a ajuda de guerrilheiros curdos, que hoje gozam de autonomia no norte, para tomar Kiruk.

Também importante no planejamento militar é o tempo. Os estrategistas acompanham atentamente a meteorologia e as fases da lua, que no momento está cheia. Há previsão de tempestades no deserto esta semana, mas a temperatura, que em junho chega aos 40ºC, ainda está só um pouco acima dos 30ºC.

Um grande ponto de interrogação é a possibilidade de Saddam ainda ter armas de destruição em massa. Felgenhauer acha que o ditador pode se valer do fato de os soldados ocidentais estarem reunidos no Kuait e em barcos no golfo Pérsico, o que os tornaria alvos fáceis. Por isso, segundo ele, a estratégia dos Estados Unidos e do Reino Unido pode ser a de dispersar esses soldados logo no início.

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