Reuters
19/03/2003 - 00h31

Blair critica "velha Europa" e crescem diferenças sobre Iraque

da Reuters, em Londres

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, censurou a França severamente ontem por adotar uma política externa "profundamente perigosa", segundo ele baseada em antipatia contra os Estados Unidos e que beneficia o presidente iraquiano Saddam Hussein.

Em um ataque acalorado, que vai ecoar na cúpula de líderes da União Européia que acontece nesta semana, Blair acusou líderes franceses de ter uma visão "errônea", que os levou a impedir uma resolução da ONU autorizando a guerra no Iraque se o país se recusar a esclarecer questões a respeito de seu arsenal de armas de destruição em massa e a se desarmar.

"Existe ressentimento a respeito da predominância americana. Há medo do unilateralismo americano ... Eu conheço tudo isso. Mas a maneira de lidar com isso não é por meio de rivalidade, e sim com parceria", declarou Blair ao Parlamento.

A França, apoiada pela Alemanha, a Rússia e a China, forçou o Reino Unido e os Estados Unidos a retirarem um rascunho de resolução que haviam patrocinado, ameaçando usar seu poder de veto como membro permanente do Conselho de Segurança.

A posição, ironicamente, acelerou a marcha à guerra. O Reino Unido e os Estados Unidos, que enviaram dezenas de milhares de tropas para o golfo Pérsico, agora dizem que vão cuidar de Saddam de acordo com seus próprios termos. Na noite de segunda-feira (17), o presidente norte-americano, George W. Bush, disse a Saddam que ele tinha 48 horas para se retirar do país ou enfrentar a guerra.

Soldados à porta"

"O único poder persuasivo a que Saddam responde é à presença de 250 mil soldados aliados à sua porta", Blair disse ao Parlamento, durante um debate a respeito da guerra no golfo -que receberá votos contrários de vários membros de seu Partido Trabalhista.

"E, no entanto, quando um fato é tão óbvio e está tão na cara, somos informados de que qualquer resolução que autorize a guerra será vetada", disse, quase gritando.

"Não apenas oposição, veto. Bloqueio. A tragédia é que se essa resolução fosse aprovada, talvez ele tivesse concordado com os termos".

Um assessor de Blair afirmou que ele continua do lado da Europa, mas, apenas dois dias antes de encontrar-se com o presidente da França, Jacques Chirac, e o chanceler alemão, Gerhard Schröder, Blair demonstrou que já não faz mais uso da linguagem diplomática e citou um possível afastamento entre os EUA e a Europa.

"Só é possível chegar a uma verdadeira posição européia se a França, o Reino Unido e a Alemanha estiverem juntos", disse.

A Alemanha e a França -apelidadas de "velha Europa" pelo secretário de Defesa norte-americano Donald Rumsfeld -continuam sendo a casa das máquinas do projeto da União Européia, mas Blair acredita que a aritmética vá mudar em 2004, quando dez novos membros, a maior parte deles do Leste Europeu, se juntarem ao bloco. Espanha, Itália, Holanda, Dinamarca e Portugal apóiam o Reino Unido.

Blair enfrenta ainda uma revolta parlamentar, por causa de sua posição a respeito da aprovação da guerra contra o Iraque.

Segundo funcionários do governo, a declaração de Chirac de que vetaria a resolução abriu caminho para que Blair declarasse que a França acabou com o processo diplomático e ajudou a reduzir a contrariedade de membros de seu próprio partido, que são contra a participação de tropas britânicas em um conflito que não conte com a aprovação da ONU.

O comissário das Relações Exteriores da União Européia, Chris Patten, disse que o bloco será prejudicado se a França e o Reino Unido não chegarem a um acordo.

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