Reuters
23/03/2003 - 17h05

Cobertura da guerra por TVs atrai telespectadores no mundo

da Reuters, em Londres

Imagens da guerra no Iraque exibidas ao vivo de minuto em minuto estão hipnotizando telespectadores ao redor do mundo, mas nem todos estão felizes com o que vêem.

Redes de TV norte-americanas e britânicas como CNN, Sky e BBC estão colocando no ar flashes ao vivo da cobertura da invasão liderada pelos Estados Unidos, e até a mídia de países não envolvidos com o conflito tem interrompido sua programação para alimentar o apetite do público por notícias.

Muitos telespectadores foram absorvidos pelo que uma estação de rádio londrina classificou de "guerra pornô" -flashes televisivos ao vivo de tiroteios no deserto ou espetaculares bolas de fogo no horizonte de Bagdá.

"A cobertura 24 horas, em vários canais, das operações no Iraque são muito mais surreais que a cobertura da Guerra do Golfo, em 1991", escreveu o colunista Darrel Bristow-Bovey no jornal "Sunday Independent", da África do Sul.

"O que é pior, com dez anos de TV-realidade nos condicionando. Torna-se cada vez mais difícil não tratar a cobertura como outras formas de entretenimento, uma saga revelada com giros e reviravoltas e surpresas inesperadas".

Bristow-Bovey afirma que a cobertura é como assistir a um "Big Brother Iraq" -uma referência ao "reality show" que faz seus telespectadores observarem os competidores confinados em uma casa cheia de câmeras.

Mesmo pessoas que não são normalmente viciadas em notícias têm sintonizado a TV para atualizações regulares da guerra que causa profundas divergências na comunidade internacional.

"Normalmente eu assisto muito pouco à CNN ou à BBC, principalmente porque meu inglês não é tão bom para entender", disse a executiva de Tóquio, Atsuko Hiranshe. "Mas quando mostram o desenrolar da guerra no Iraque, minuto a minuto, meus olhos ficam colados na tela da TV", disse.

Visão dos fuzileiros

Uma das mais resistentes imagens da Guerra do Golfo, na TV, em 1991, foi a de mísseis de cruzeiro norte-americanos mergulhando nas ruas de Bagdá.

Desta vez, as redes estão alardeando suas habilidades em transmitir imagens de satélite ao vivo a partir de suas posições junto às forças britânicas e norte-americanas no Iraque.

Ao vivo na CNN, a americana Stefanie Lyle observava seu marido soldado Clay atravessando o sul do Iraque esta semana em um tanque. "Eu estava gravando aquilo", disse à rede de TV. "Eu simplesmente não acreditava que poderia ver isso pela TV. É demais."

CNN, Sky e a BBC estiveram todas dominadas hoje de manhã por imagens "sob o ponto de vista dos fuzileiros" da luta entre soldados norte-americanos e iraquianos nas imediações da cidade de Umm Qasr, no sul do país.

O apresentador da Sky se empolgava sobre as imagens "dramáticas". Mas era difícil ver alguma coisa na extensa área desértica, exceto alguns postes de telégrafo e uns poucos prédios distantes.

"Como se estivesse cobrindo um jogo de futebol, o repórter britânico diz a seus telespectadores em casa sobre a batalha que acontece esta manhã em Umm Qasr. Sem edição, apenas duas horas de cobertura ao vivo", disse um jornalista alemão para seus telespectadores da rede de TV ARD.

A cobertura de TV também tem aumentado na Alemanha e na França, cujos governos se opõem à guerra no Iraque, mas o tom lá tende a ser mais tranquilo.

Um correspondente alemão advertiu os telespectadores a se precaverem da "desinformação" de Washington e uma rede alemã colocou no ar imagens de um tanque norte-americano atolado na areia iraquiana.

Mesmo no Reino Unido, alguns criticam o que eles enxergam como o tom excessivamente estúpido de algumas reportagens de televisão.

"De alguma forma, as pessoas que fazem as reportagens e as que as apresentam têm entusiasmo demais por isso", disse o gerente de marketing britânico, Tom Greaves.

Muitos também duvidam das imagens usadas para contar a história e dizem que a televisão apresenta uma visão asséptica da guerra.

A cobertura de algumas redes de TV árabes, inclusive da Al Jazeera, do Qatar, têm sido bem mais gráficas, mostrando imagens sangrentas de iraquianos mortos e feridos pelos ataques aéreos.

Gadi Wolfsfeld, professor de ciência política e comunicações da Universidade Hebraica de Jerusalém, disse que o tom suave da cobertura norte-americana e britânica pode não durar muito.

"Por causa da falta de consenso internacional sobre esta guerra, o papel da mídia pode mudar muito rapidamente e voltar-se contra o governo americano", disse o professor.

"Nós não estamos vendo muitos mortos e feridos. Se a guerra evoluir mal (para os americanos e os britânicos) nós veremos muito mais."

As redes de TV que estão gastando milhões de dólares na cobertura da guerra do Iraque poderão descobrir que a sede por notícias pode diminuir se a guerra se arrastar.

A cobertura intensiva ao vivo da guerra da rede de TV norte-americana ABC ficou em segundo lugar nos índices de audiência, perdendo para o seriado "Friends".

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