Reuters
25/03/2003 - 05h45

Negociações para ajuda humanitária ao Iraque emperram na ONU

da Reuters, em Washington

Apesar dos pedidos do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pela retomada da ajuda humanitária ao Iraque, os políticos da guerra impediram que o Conselho de Segurança reformule o programa de petróleo por alimento.

Discussões entre os diplomatas voltaram a ocorrer hoje após horas de negociações no final de semana sobre a proposta de Annan de que a ONU tome o controle dos contratos do programa do Iraque e os adapte às atuais necessidades do país.

O programa "petróleo por comida", que começou em 1996, usa as receitas do óleo para comprar alimentos, medicamentos e outros bens. O objetivo é reduzir os impactos das sanções impostas em agosto de 1990 após a invasão do Kuait. O Iraque já pagou por cerca de 8,9 bilhões de dólares em contratos que não foram entregues.

A conselheira de segurança nacional dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, deve se encontrar com Annan hoje para discutir assuntos humanitários, disseram representantes do governo norte-americano.

A resolução para reestruturar o programa por 45 dias foi adiada, contrastando com a posição de todas as nações que concordaram que o fornecimento é essencial para 60% da população iraquiana de 26 milhões que dependem das rações do programa.

Água e eletricidade

Diplomatas disseram que Rússia, França, China e Síria, e outros países contrários a guerra, estão receosos sobre a posição da ONU na coordenação dos esforços junto com tropas anglo-americanas, pois significaria uma legitimação do ataque ao Iraque.

Além disso, eles disseram, a Rússia está inflexível sobre a alteração ou suspensão dos contratos atuais.

Ainda assim, Annan disse a repórteres que o "Conselho e eu mesmo estão determinados em fazer qualquer coisa para manter a porta aberta. E seja qual for a autoridade responsável após as hostilidades, nós vamos apoiá-la".

Os integrantes do conselho querem garantir que o envolvimento da ONU não reduza as responsabilidades de EUA e e do Reino Unido pelo bem-estar do povo iraquiano, particularmente no sul do país, onde o abastecimento de água e energia elétrica foram cortadas devido ao ataque.

"Eu acho que medidas urgentes devem ser tomadas para restaurar a eletricidade e a água para a população", disse Annan.

"Uma cidade deste tamanho não pode ficar sem água ou eletricidade por muito tempo. Tirando o aspecto da água, você conseguem imaginar como está o saneamento básico", questionou.

O repórter da Reuters Michael Georgy, que está perto da cidade de Basra, disse que os iraquianos bebem água suja, enquanto outros vão aos hospitais em busca de medicamentos.

Novo debate

Enquanto os especialistas em Oriente Médio do Conselho de Segurança negociam o programa "petróleo por comida", hoje embaixadores devem preparar uma reunião pedida pela Liga Árabe pelo fim da guerra.

O embaixador da Síria na ONU, Mikhail Wehbe, afirmou que o grupo quer uma resolução pedindo a retirada de todas forças estrangeiras do Iraque, medida que deve ser rejeitada.

A Rússia também pediu por um encontro. O ministro das Relações Exteriores russo, Igor Ivanov, disse em Moscou: "As Nações Unidas e o Conselho de Segurança não podem, obviamente, continuar sem se envolver com o que acontece no Iraque."

O encontro foi formalmente requisitado pelo embaixador do Iraque na ONU, Mohammed Aldouri, que preside o grupo dos países árabes.

Na sexta-feira, Aldouri acusou Annan de tentar sequestrar o programa de petróleo por comida do governo iraquiano a pedido dos EUA e do Reino Unido.

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