Reuters
28/03/2003 - 09h49

George Clooney discute a relação com esposa em "Solaris"

da Reuters, em Hollywood

Apesar de ser ambientado quase inteiramente numa nave espacial, "Solaris" é ficção científica apenas no nome. Esta segunda versão para o cinema do romance homônimo de Stanislaw Lem é tecnicamente ótima e oferece uma performance séria e convincente de George Clooney no papel de um médico enviado ao espaço para descobrir o que aconteceu com a tripulação de outra nave.

Mas, apesar da ambientação espacial, a história misteriosa -- mas sem suspense -- está a uma galáxia de distância de um "Alien" qualquer. Na realidade, é um filme de arte pura.

"Solaris", que estréia no Brasil nesta sexta-feira, provavelmente vai encontrar fãs nos críticos e nos cinéfilos sérios que irão valorizar a natureza intelectualmente ambiciosa e corajosamente não-comercial do projeto de Steven Soderbergh.

A versão anterior do livro no cinema, dirigida em 1972 pelo cineasta russo Andrei Tarkovsky, era uma "tour de force" e também, com 165 minutos de duração, uma prova de força para quem o assistia.

Trabalhando à sua própria maneira contra as normas e expectativas do cinema comercial de Hollywood (e reduzindo o tempo de duração do filme em mais de uma hora), Soderbergh direciona o material num rumo mais pessoal, transformando-o em algo como um "Cenas de um Casamento no Espaço".

O psicólogo Chris Kelvin (George Clooney), de luto pela morte de sua mulher, atende a um apelo urgente recebido de seu amigo Gibarian (Ulrich Tukur) para que vá até a estação espacial distante de Prometheus, descobrir por que a tripulação parou de se comunicar e trazê-la de volta.

As primeiras cenas do filme, ainda na Terra, estão entre as mais belas. Tomadas dramaticamente compostas mostram o psicólogo em casa, em terapia e nas ruas molhadas pela chuva de uma cidade que se presume que seja Los Angeles no futuro.

Ao chegar a Prometheus, que paira sobre o planeta homônimo, Chris descobre que Gibarian está morto e os dois tripulantes sobreviventes se encontram num estado muito estranho, falando coisas sem sentido.

Em sua primeira noite na estação, Chris tem um sonho vívido sobre seu primeiro encontro fascinante e a primeira vez que fez amor com sua então futura esposa, Rheya (Natascha McElhone).

Ao acordar, encontra Rheya, ou alguém ou alguma coisa exatamente como ela, do seu lado, em carne e osso.

Assim começa uma longa análise, quase clínica, da história do casamento deles, e, paralelamente, as tentativas de Chris e também de Rheya de descobrir exatamente o quê está acontecendo entre eles na nave espacial.

Instantâneos de momentos intensos de intimidade do passado destacam a deterioração rápida da união deles, e o presente é envolto em incertezas quando Rheya admite desconfiar que não é a pessoa de quem se recorda.

Chris e Rheya esperam aprender com seus erros da primeira vez para que possam fazer a relação funcionar nesta segunda rodada, mas a introspeção e a angústia se misturam com dúvidas quanto à confiabilidade da memória e a incerteza quanto a se a "nova" Rheya é realmente humana.

Resumindo: muitos espectadores vão sair do cinema sem saber exatamente o que foi que acabaram de ver. E a confusão não será culpa deles.
 

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