Reuters
29/03/2003 - 22h11

"Fogo amigo" é o principal inimigo dos britânicos na guerra

PAUL MAJENDIE
da Reuters, em Londres

Quase 85% dos soldados britânicos mortos até agora no Iraque foram vítimas de acidentes ou do chamado "fogo amigo."

Desde que a guerra começou, o Reino Unido recebe quase diariamente notícias sobre quedas de helicópteros, pilotos abatidos por mísseis dos EUA ou tanques bombardeados por colegas.

Só quatro dos 23 britânicos mortos até agora no Iraque tombaram em combate. Os demais tiveram morte acidental.

Erros invariavelmente acontecem no caos dos campos de batalha, mas esse nível de mortes acidentais é muito acima da média nas guerras modernas.

"Cerca de 25% das mortes em guerras dos século 20 foram por disparos entre aliados", disse o coronel Mike Vickery, que comandou um tanque na primeira Guerra do Golfo (1991).

Essa realidade ficou clara para os britânicos no sábado, quando os primeiros dez caixões da guerra chegaram ao país. Nenhum deles continha restos de soldados mortos em combate. Oito foram vítimas de um acidente de helicóptero e os outros dois foram atingidos por um míssil dos EUA.

Para os militares, matar um colega deixa cicatrizes que muitas vezes nunca se fecham. "Pense em como os pilotos devem se sentir péssimos, pense no tanque Challenger que disparou contra colegas.

"Eles mataram seus amigos, cada um conhecia a família dos outros," disse Mike McGinty, analista de defesa do Real Instituto de Serviços Unidos.

Mas segundo ele, o "fogo amigo" é um risco inevitável. "É o resultado de erros provocados pela fadiga e pela dificuldade de manter o alto padrão dos equipamentos num momento de uso intensivo," afirmou.

O coronel Christopher Langton atribui os acidentes ao ritmo frenético com que as tropas estão se deslocando rumo a Bagdá.

"O tempo é muito acelerado para uma ampla gama de tarefas, e isso é assim dia e noite," disse.

A visão dos caixões desembarcando ao som de uma banda militar deixou o coronel Vickery pensativo.

"É um pensamento muito sombrio que esses sejam apenas os mais recentes em uma lista muito longa de jovens mortos dentro ou nos arredores da Babilônia em milhares e milhares de anos. Com certeza precisamos descobrir uma maneira melhor do que essa para impor nossos argumentos," disse enquanto assistia imagem na TV.

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