Reuters
30/03/2003 - 05h01

Rudes, soldados dos EUA ganham poucos amigos civis no Iraque

da Reuters, em Umm Qasr (Iraque)

Um novo grafite foi pintado em um prédio da cidade portuária de Umm Qasr. Onde a aparecia a frase "Abaixo o Iraque" antes da invasão, agora está escrito "Abaixo os EUA".

Os moradores da cidade, que tem maioria da população de origem xiita e é conhecida por sua oposição ao presidente Saddam Hussein, dizem que a mudança de opiniões aconteceu principalmente por causa da maneira como os soldados dos Estados Unidos tratam os civis.

Durante a Guerra do Vietnã, o dito popular em resposta à doutrina de ganhar o apoio da população civil era "agarrem pelas bolas e seus corações e mentes virão em seguida".

E essa parece a tática das forças dos EUA na guerra no Iraque, enquanto aos britânicos cabe o papel de fazer amigos.

Os xiitas do sul também se lembram como os Estados Unidos incentivaram uma revolta contra o a liderança sunita de Saddam em 1991 e depois foram abandonados por Washington e duramente reprimidos por Bagdá.

As suspeitas não estão sendo aliviadas agora com a atitude da maioria dos soldados dos EUA.

Muitos iraquianos do sul do país reclamam que os soldados dos EUA são rudes e hostis com os civis.

"Eles estão lutando contra nós ou contra Saddam?", perguntou o professor Mohammed Salik.

É quase certo que as tropas invasoras causarão sérios problemas para a vida das pessoas comuns em Bagdá.

Mas os soldados norte-americanos que tomaram o porto de Umm Qasr fizeram poucos amigos entre os civis. Alguns soldados britânicos estão encarregados de estabelecer uma autoridade temporária para ouvir as reclamações de danos causados pelos norte-americanos.

Alvejados

Um oficial britânico que tem escolta de fuzileiros dos EUA disse que estes dispararam uma rajada contra uma casa na periferia da cidade.

"Eles disseram que foram alvejados por franco atiradores a partir daquele local há alguns dias e que desejam dar um 'aviso' aos agressores de vez em quando", disse o oficial. "Isso é algo que nunca aceitaremos", disse. "Você realmente não ganhará amigos fazendo isso."

Um oficial das forças especiais dos EUA em Umm Qasr disse que às vezes é difícil conter os homens, que podem exagerar.

"Você tem que levar em conta que estes rapazes recebem um pensamento único durante o treinamento. Entre os militares a ordem é tomar conta de si e de seus companheiros. Ponto final. Como podemos saber quem é o inimigo?", disse.

As forças invasoras são contra o Iraque ou somente contra o regime? "Alguns dos meus rapazes têm dificuldades em perceber a diferença", disse o oficial. "O soldado médio não é mais educado que o norte-americano médio e alguns deles não sabem o que está acontecendo aqui. Mas estamos travando a luta mais importante aqui. Não há espaço para abaixarmos a guarda", afirmou.

O trabalho de fazer amigos foi deixado para as força britânicas que tomam as posições enquanto os norte-americanos avançam.

Muitos civis e jornalistas são barrados em barricadas montadas por forças dos EUA sem explicações. Fuzileiros grosseiros fazem gestos para voltarem e se recusam a responder perguntas ou chamar seus superiores.

Mas os britânicos em geral são educados e ajudam quando possível. Soldados conversam cordialmente com civis -- mesmo quando nenhum dos lados entende o que o outro está dizendo.

"Acho que é uma questão de treinamento", disse um oficial britânico. "Os soldados americanos têm todos os benefícios da tecnologia e um treinamento inacreditável. Eles têm um pensamento único."

"Mas os soldados britânicos têm uma posição mais humana --talvez por estarem mais acostumados com coisas como a Irlanda do Norte, onde somos tratados por muitos como um Exército de ocupação."

"As diferenças são um pouco relativas aos estereótipos nacionais", completou.

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