Reuters
03/04/2003 - 17h11

Uso de bombas de fragmentação causa polêmica no Iraque

da Reuters, no Kuait

Os Estados Unidos admitem tê-las usado no Iraque; o Reino Unido diz que dispõem delas, mas que não as usaria em áreas construídas; o Iraque diz que elas causaram a morte de dezenas de civis; e grupos de defesa dos direitos humanos insistem em que deveriam ser proibidas.

As bombas de fragmentação ("cluster bombs") são mortíferas, mas imprevisíveis -cada uma delas contém 200 pequenas esferas explosivas que podem se espalhar por uma área equivalente à de dois campos de futebol. A maior parte das esferas explode ao contato, e elas têm capacidade de perfurar seis milímetros de aço.

Os grupos de defesa dos direitos humanos temem que elas em breve venham a superar as minas terrestres como o mais letal dos legados da guerra. A Anistia Internacional disse que pelo menos 5% das esferas explosivas não detonam ao impacto, o que na prática as transforma em minas antipessoal.

O ministro da Informação iraquiano, Mohammed Saeed al-Sahaf, acusou hoje as forças norte-americanas de uso de bombas de fragmentação no bairro residencial de Douri, em Bagdá, matando 14 e ferindo 66 pessoas.

Um dia antes, o Dr. Sadid Moussawi, em um hospital da cidade medieval de Hilla, cerca de 100 quilômetros ao sul de Bagdá, disse que 33 civis iraquianos haviam sido mortos e mais de 300 feridos em ataques aéreos norte-americanos com bombas de fragmentação.

"Eles estão usando bombas de fragmentação", disse Moussawi. "Nós podemos afirmá-lo com base na distribuição dos estilhaços."

Militares norte-americanos disseram ontem que os bombardeiros B-52 haviam lançado novas bombas de fragmentação de 454 quilos, com orientação de precisão, contra tanques iraquianos postados em defesa de Bagdá, mas não informaram onde acontecera o ataque.

E insistem em que, embora se reservem o direito de usar as novas bombas de fragmentação em combate, jamais as empregariam contra civis.

Oficiais britânicos negaram hoje reportagens de que haviam utilizado projéteis de artilharia L20 de fragmentação contra alvos na periferia sul de Basra.

O coronel Chris Vernon, porta-voz das forças armadas, disse que não estão "usando munição de fragmentação, por razões óbvias de danos colaterais, em Basra ou perto da cidade". "Não nos interessa fazê-lo", disse.

As controvertidas armas lançadas pelos B-52 são versões novas e atualizadas de antigas munições, adaptadas para corrigir desvios causados pelo vento e pelas condições climáticas, para obter maior precisão.

Depois de lançadas, elas se abrem no ar e dispersam as pequenas esferas explosivas em pára-quedas. Os pacotes de esferas explosivas foram projetados para atingir seus alvos com mais precisão.

Pedido de proibição

A Anistia Internacional britânica exigiu ontem uma moratória no uso de bombas de fragmentação em áreas densamente povoadas.

"O uso de bombas de fragmentação em ataques a áreas civis em Hilla constitui ataque indiscriminado e grave violação das leis humanitárias internacionais", afirma a organização em comunicado.

A Anistia informa que as bombas de fragmentação usadas no ataque contra Hilla eram do modelo BLU97 A/B. Cada bomba porta mais de 200 esferas explosivas.

De acordo com uma estimativa, durante a primeira guerra do golfo Pérsico, em 1991, as forças norte-americanas lançaram mais de 50 milhões de esferas explosivas, por meio de bombas de fragmentação. Elas também foram usadas nas campanhas de Kosovo e do Afeganistão. Milhares de esferas não detonadas ainda podem ser encontradas no Iraque e no Kuait, sobras da última guerra.

Até o final do ano passado, perto de duas mil pessoas no Kuait haviam morrido ou sofrido sérios ferimentos devido a esferas explosivas outros explosivos não detonados deixados pela guerra, de acordo com o Diana, Princess of Wales Memorial Fund, que coordena uma campanha contras as minas terrestres.

Richard Lloyd, diretor do Landmine Action, disse que o uso de bombas de fragmentação no Iraque "contradiz qualquer alegação governamental quanto a minimizar as baixas civis".

"As armas desse tipo são propensas a errar seus alvos e matar civis. Há também o problema adicional das esferas explosivas que não se detonam no momento do impacto e na prática se transformam em minas, pronta as detonar, causando mortes a civis e forças terrestres", disse.

Andrew Puris, presidente-executivo do Diana Fund, disse que "é lastimável que, a despeito dos bem documentados problemas das armas de fragmentação, os Estados Unidos e o Reino Unido as estejam empregando contra o Iraque".

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