Reuters
03/04/2003 - 17h45

Aumenta número de crianças vítimas da guerra no Iraque

SAMIA NAKHOUF
da Reuters, em Bagdá

Aisha Ahmed, 8, foi uma das centenas de vítimas infantis da guerra liderada pelos Estados Unidos contra o Iraque há 15 dias. Ela perdeu um olho e seu rosto e corpo estão cobertos de feridas, causadas provavelmente por uma tempestade de estilhaços.

"Mamãe! Quero minha mamãe! Onde está minha mamãe?", a menina não parava de murmurar. Mas nem a enfermeira nem a vizinha que tentavam consolá-la ousavam responder.

Mohammad, 4, o irmão mais novo de Aisha, morreu, e sua mãe e outro irmão estão em condição críticas, sendo operados de ferimentos na cabeça e no peito. O pai e duas irmãs sofreram ferimentos sérios e estão em outro hospital.

Um vizinho diz ter visto mísseis atingindo Radwaniyeh, uma área remota perto do aeroporto de Bagdá, na manhã de ontem.

Para infortúnio da família, eles vivem em uma área que -além de sua fazenda- abriga uma residência presidencial e posições militares. Um total de 12 crianças e seis adultos foram atingidos.

O quartel-general norte-americano no Qatar disse que uma fazenda em Radwaniyeh servia também como "instalação de comando e controle" militar. Washington alega estar tentando minimizar as baixas civis em sua guerra pela derrubada do presidente Saddam Hussein.

Aisha estava com um primo e vizinhos brincando no jardim durante um intervalo nos combates quando o míssil explodiu, segundo o vizinho.

"Ouvimos os aviões e depois uma grande explosão. Vimos casas em chamas e corremos para resgatá-los e removê-los de sob os destroços. Não esperávamos que civis fossem atacados em um momento de pausa nos combates", disse o vizinho.

Aisha tinha manchas de sangue na roupa, e seus gemidos se transformaram em gritos quando os enfermeiros tentaram levá-la para a sala de cirurgia, onde sua cabeça seria operada.

O dr. Ahmed Abdel Amir disse que as crianças decerto representariam, boa proporção das vítimas, porque são boa parte dos 26 milhões de habitantes do Iraque.

Outra criança, Mohammad Kazem, 7, estava na cama ao lado, recebendo soro. Foi atingido por um estilhaço no estômago quando um míssil atingiu uma área de perto de sua casa, a oeste de Bagdá.

Muitas pessoas dizem que a guerra, na qual 1.250 civis foram mortos e 5.000 feridos até agora, de acordo com o Iraque, era particularmente dolorosa para as crianças.

Mohammad al-Jamal, 6, também estava gritando devido aos ferimentos. Ele estava do lado de fora de sua casa quando um míssil explodiu, matando duas pessoas e ferindo-o no estômago e nos intestinos.

Seu pai e mãe liam versos do Alcorão para ele, dizendo que tudo ficaria bem porque "Deus tomaria conta dele".

As mães no hospital trocam informações sobre os traumas de seus filhos. Muitas falam de crianças aterrorizadas chorando sem parar e tremendo quando ouvem os bombardeios. Elas dizem que as crianças se recusam a comer e não conseguem dormir.

As mães contam que seus filhos estão confusos e deprimidos. Há pouco que se possa fazer para distrai-los durante o dia, e muitos temem a noite, quando os bombardeios normalmente recomeçam.

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