Reuters
10/04/2003 - 13h10

Ministro quer fazer das novelas uma arma para educar o Brasil

da Reuters, em Brasília

Ansioso por concretizar suas promessas de avanços sociais, o governo brasileiro sonha em fazer da telenovela, a mais poderosa indústria audiovisual do país, uma arma para educar a população mais carente, que tem na televisão praticamente sua única fonte de entretenimento.

Depois de as novelas já terem abordado temas como os sem-terra, a corrupção política, a Aids e o consumo de drogas, agora o novo governo de centro-esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva está se propondo a usá-las para estimular o estudo, a leitura e a aprendizagem.

"Venho defendendo a idéia de que a escola faça parte das novelas brasileiras, de que nas novelas as crianças e os jovens que dão certo na escola sejam vistos com respeito e carinho pelos outros", disse o ministro da Educação, Christovam Buarque, em entrevista recente.

Buarque afirmou que é preciso aproveitar o poder da televisão, presente em 88 por cento dos lares brasileiros, para levar à população mais pobre a consciência de que a educação pode melhorar sua vida.

"A novela 'O Clone' ajudou em muito a ensinar como enfrentar o problema da droga", disse Buarque, usando a produção global como exemplo de como é possível usar a TV para estimular as pessoas. O Brasil tem 20 milhões de analfabetos adultos e 34 milhões de crianças em idade escolar.

Recentemente, reunido com João Roberto Marinho, vice-presidente Rede Globo, Christovam Buarque pediu uma campanha semelhante contra a evasão escolar, problema grave no país, onde apenas 30 por cento das crianças que entram na escola chegam a concluir o ensino médio.

"Da mesma maneira que se mostrou uma garota se degradando por causa da droga, seria possível mostrar um jovem decaindo na vida por não estudar. A resposta (de Marinho) foi que existe grande interesse nisso", afirmou Buarque, esclarecendo que o governo não pretende regular ou interferir no conteúdo das novelas.

Christovam Buarque também revelou que conversou longamente sobre o assunto com Glória Perez, autora de "O Clone".

Galãs cultos

Em conversa com a Reuters, Glória Perez disse que "o ministro sempre me pergunta por que os galãs mais admirados nas novelas são os musculosos, em lugar de homens cultos e estudiosos."

"Prometi a ele que na minha próxima novela vou incluir um galã que goste de ler. Talvez, em homenagem ao ministro, o personagem se chame Christovam", contou a autora.

Mas ela afirmou que é preciso ter cuidado para continuar atraindo o interesse do público. "A novela não pode virar sala de aula, nem se tornar chata. Sempre introduzi em todas as minhas novelas campanhas de esclarecimento sobre questões muito presentes na vida do povo. Mas é preciso fazer isso de uma maneira que emocione, sem atrapalhar a história'", explicou Perez.

Potencial educativo

O potencial educativo das novelas já foi fartamente demonstrado na história da telenovela brasileira.

"Vale Tudo", novela de enorme sucesso produzida no final dos anos 1980 e que foi vendida a vários países latino-americanos, mostrou uma mulher humilde que conseguiu avançar na vida graças a sua capacidade como cozinheira.

A novela exerceu impacto forte em muitas mulheres brasileiras pobres, tanto assim que a demanda por cursos de culinária se multiplicou.

Nos anos 1970, a novela "O Espigão" abordou o tema do meio ambiente e despertou uma preocupação nacional com a proteção da natureza. "Explode Coração", de 1995, também de Glória Perez, pôs em moda a Internet, com uma trama em que um empresário conhece uma jovem cigana por meio da Web.

Atualmente é o público mais carente que tem se mantido fiel às novelas. Essas produções vêm perdendo audiência na classe média, que possui condições de pagar cerca de 150 reais por mês por uma assinatura de TV a cabo ou via satélite.
 

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