Reuters
23/07/2003 - 16h18

Aumento de gelo e calor é consequência do aquecimento global

ALISTER DOYLE
da Reuters, em Oslo

Enquanto o mundo derrete em um dos anos mais quentes já registrados, alguns baluartes gelados permanecem e desafiam o aquecimento global.

Os raros pontos frios, do Canadá à China, causam dores de cabeça para políticos que buscam impor medidas caras para cortar as emissões de carros e fábricas, culpadas por cobrir o globo e elevar as temperaturas.

"Estamos atrapalhando todo o sistema climático", disse Rajendra Pachauri, diretor da principal comissão da ONU que lida com a mudança do clima. "Não é como alcançar um aquecimento uniforme de todo o planeta."

Ele afirma que os sinais de aquecimento global são devastadores, da onda de calor na Índia neste ano, com temperaturas acima do 48ºC que mataram 1.500 pessoas, à seca prolongada na Austrália. "Há ainda muitas dessas (anomalias). Mas simplesmente mostram que não haver aquecimento não é lógico", disse.

Especialistas dizem que anomalias aparentes, como o aumento dos glaciares na Noruega na década de 1990, podem frequentemente ser explicadas pelo panorama geral do aquecimento global.

"Quando os oceanos ficam mais quentes, há mais evaporação que criam mais nuvens. Então pode haver mais precipitação e, em algumas áreas, ela pode surgir como neve", explica Josefino Comiso, cientista do Centro de Vôo Espacial Goddard da Nasa.

Ele afirma que uma pesquisa conduzida por ele, por exemplo, indica que a neve tem se tornado mais profunda em partes altas da Groenlândia. Gelo e neve em algumas regiões da Antártida também têm engrossado. "Alguns modelos climáticos sugerem esses efeitos", disse.

Diminuição glaciar

Em outras áreas, o aquecimento global parece mostrar exceções. O glaciar Briksdal no oeste da Noruega, por exemplo, recuou cerca de 130 metros do pico em 2000 --quando congelou ramos de árvores livres do gelo por décadas. "Ele reduziu muito, apesar de ter 1,5 quilômetro a mais no meio do século 17", disse o guia Frode Briksdal, cuja família vive na região.

Especialistas em clima afirmam que os verões quentes recentes estão derretendo o gelo, apesar de haver mais neve no inverno que acrescenta mais massa aos glaciares.

A Organização Mundial de Meteorologia da ONU diz que 1998 foi o ano mais quente desde o começo dos registros, em 1860, seguido por 2002 e 2001. O órgão afirma que o aumento das temperaturas médias da superfície global desde 1990 excedeu 0,6ºC.

Até esse ponto de 2003, as temperaturas têm sido as mais elevadas em muitas regiões. A organização afirma que a média de maio foi a segunda mais alta já registrada. As temperaturas de junho na Suíça, por exemplo, foram as mais elevadas em 250 anos.

Mas algumas pessoas questionam a visão do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) de que a atividade humana causa o aquecimento global. "Há uma idéia entre o público que a 'ciência está estabelecida'", afirma o secretário de Energia dos EUA, o republicano James Schlesinger. "Corremos o perigo de aceitar certezas prematuras."

Em um discurso recente, Schlesinger disse que o IPCC focou muito fatores como emissões de gases-estufa pelo homem, vulcões e um ciclo solar de 11 anos. Segundo ele, outros fatores foram deixados de lado, como variações a longo prazo da atividade solar.

O presidente dos EUA, George W. Bush, deixou o Protocolo de Kyoto --o qual planeja cortar as emissões de dióxido de carbono em pelo menos 5% entre 2008 e 2012-- ao argumentar que ele é muito custoso e exclui injustamente os países em desenvolvimento.

O professor de glaciologia Jon Ove Hagen, da Universidade de Oslo, afirma que a maioria dos glaciares do Alasca ao Himalaia está derretendo. "Em contraste, em cem anos os especialistas dizem que o gelo na Antártida vai aumentar em volume por causa da neve."

A cientista Lynn Rosentrater, do grupo ambientalista WWF, afirma que os níveis dos mares devem aumentar neste século porque a água dos oceanos expandiria com temperaturas altas. Além disso, o derretimento de glaciares no Alasca, no Canadá e na Escandinávia adicionaria mais água nos oceanos.

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