Reuters
17/07/2001 - 13h13

Reunião sobre o clima na Alemanha começa sem palhaçadas

da Reuters, em Bonn (Alemanha)

O grande circo climático das Nações Unidas armou sua tenda em Bonn, mas, desta vez, os mágicos e palhaços preferiram ficar em casa a acompanhar as temerárias discussões sobre o futuro do Pacto de Kyoto.

Da última vez que cerca de 180 países se reuniram para aderir à Convenção Estrutural da ONU sobre Mudanças Climáticas, acrobatas e mímicos recepcionaram as comitivas. Aquelas negociações, em Haia, em novembro, pareciam decisivas, e o governo holandês fez de tudo para tentar convencer os hóspedes a salvar o planeta.

Desta vez, o ambiente na antiga capital alemã ocidental é bem menos divertido, com ativistas ambientais alertando que as diferenças entre a Europa e o governo de George W. Bush, que rejeitou o pacto, podem pôr a pique as tentativas de evitar um desastre.

O anfitrião de Haia, Jan Pronk (ministro do Meio-Ambiente holandês), bem que tentou convencer seus convidados a acertar os detalhes da implementação do Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, que prevê a redução das emissões de poluentes responsáveis pelo efeito estufa.

Quiosques com massagistas e vendedores de sanduíche natural se misturavam aos participantes da conferência, criando um clima festivo que, para Pronk, ajudaria no acordo. Com grande parte do seu território abaixo do nível do mar, a Holanda está interessadíssima em conter o aquecimento global [o derretimento das calotas polares poderia submergir o país].

Mas a festa new-age não bastou para unir EUA e UE, as duas maiores e mais poluidoras potências do planeta. As negociações fracassaram depois de duas semanas, levando à nova reunião, que começou em Bonn ontem e deve durar até o fim da próxima semana.

Em um discurso sem firulas, Pronk, que continua presidindo as negociações, sugeriu apressar o cronograma em alguns dias e ir direto ao trabalho. Assim, os únicos entretenimentos ficaram sendo o solitário manifestante que, vestido de urso polar, distribui panfletos sobre a diminuição das calotas polares ou o músico que toca guitarra perto da casa onde Beethoven cresceu.

Ao contrário do clima festivo que se viu em Haia, a reunião de Bonn é sombria. "Há uma grande nuvem negra sobre a conferência", disse Bill Hare, do Greenpeace.

O governo japonês já sugeriu que um acordo final seja adiado pelo menos até outubro, quando haverá outra reunião, em Marrakech, no Marrocos.

Os delegados que se reúnem nas modernas instalações de um hotel de Bonn não sabem se estão negociando um tratado ou apenas aguardando sua morte. Apesar das incertezas, os negociadores trabalharam até tarde da noite tentando chegar a um acordo sobre o funcionamento prático do tratado [sistemas de fiscalização e de compra e venda do direito de poluir].

Também do lado de fora o clima é sombrio, e os manifestantes se mostram abatidos na sua luta contra um futuro de animais em extinção, crescimento dos desertos e inundações de proporções bíblicas. "Em Haia, a sensação era de um evento. Aqui, parece que é um antievento", diz um dos ativistas.

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