Reuters
27/08/2001 - 00h00

Democracia substitui violência nas ruas de Timor Leste

da Reuters, em Díli (Timor Leste)

Timor Leste realiza na quinta-feira (30) sua primeira eleição democrática depois de uma campanha que chamou a atenção por um elemento raro no país -a tranquilidade.

Após décadas de violência e rebelião, a ex-colônia portuguesa vive a transição para a independência. "Acho que o próprio povo timorense desenvolveu o que eu chamo de alergia à violência. Eles não aguentam mais", disse hoje o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que administra o território em nome da ONU (Organização das Nações Unidas).

Em 1975, quando Portugal decidiu libertar suas colônias, Timor caminhava para se tornar um país. Mas a Indonésia invadiu o lugar e governou o país sem tolerar oposição.

Quando a ditadura do general Suharto já estava em decadência, em 1999, a Indonésia convocou um plebiscito sobre a independência. Os separatistas venceram, mas, antes que a ONU pudesse chegar para comandar a transição, milícias indonésias promoveram um banho de sangue em Timor.

Para Vieira de Mello, esses fatos ensinaram à população "que um de seus direitos fundamentais é viver em paz, e ela expressou essa mensagem sem meios-termos a todos os partidos políticos".

Cerca de 425 mil eleitores escolherão na quinta-feira os 88 membros da Assembléia Constituinte. No ano que vem, acontece a eleição presidencial e a independência total. Milhares de pessoas vêm participando dos comícios e exibindo os coloridos cartazes eleitorais.

"É altamente simbólico", disse o Nobel da Paz José Ramos Horta, chanceler do governo de transição. "Depois de 500 anos de dominação estrangeira -primeiro os portugueses, depois os japoneses durante a Segunda Guerra Mundial e mais tarde os indonésios- o povo finalmente vai votar na sua própria Constituição, eleger os deputados que vão criar o cenário para a eleição presidencial e a independência. Isso é um sentimento incrível, as pessoas estão muito orgulhosas".

A campanha termina oficialmente amanhã. Os votos serão misturados antes da apuração para evitar que se saiba como cada aldeia votou. O resultado final será divulgado em 10 de setembro, mas uma semana antes já será possível esboçar a composição do primeiro Parlamento. A ONU espera um alto comparecimento e longas filas para votar.

A Fretilin (Frente Timorense de Libertação Nacional), que comandou a resistência contra a Indonésia, espera ter 85% dos votos. O poeta e líder guerrilheiro Xanana Gusmão não concorre, mas anunciou que vai se candidatar à Presidência.

Vieira de Mello disse que vai criar um governo provisório de acordo com os resultados eleitorais de quinta-feira e pedirá a Xanana que dê conselhos a esse gabinete.

Mas a tranquilidade dessa campanha não fechou as feridas de 1999. Naquela ocasião, mais de um terço dos 800 mil timorenses fugiram para Timor Oeste, uma província indonésia. Dezenas de milhares permanecem lá, em campos de refugiados controlados pelas milícias.

São comuns confrontos entre as forças da ONU e milicianos pró-Indonésia, o que provocou o temor de que esses grupos pudessem tentar tumultuar o pleito. Mas Vieira de Mello disse que a atuação decisiva da ONU evitou isso. "Lamento o fato de termos matado algumas pessoas. Mas acho que eles aprenderam a lição. Se não, podem nos testar de novo".

 

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