Reuters
23/07/2001 - 17h03

Isolados, EUA vêem o mundo atingir acordo sobre o clima

da Reuters, em Bonn

Ministros de quase 200 países conseguiram chegar hoje a um acordo histórico que deve levar as nações industrializadas a reduzir a emissão de poluentes responsáveis pelo aquecimento global. Os Estados Unidos saem isolados do episódio.

A discussão para o acordo varou a madrugada, até que a União Européia conseguiu romper o impasse com o Japão sobre detalhes da implementação do Protocolo de Kyoto (1997).

Outro fracasso na negociação, como ocorreu em novembro em Haia, praticamente enterraria esse tratado internacional. O responsável seria o presidente George W. Bush, que determinou em março que os EUA não cumpririam sua parte para evitar problemas econômicos.

"É um dia brilhante para o meio ambiente", disse o ministro britânico da área, Michael Meacher, cansado, porém eufórico. "É um grande salto para conseguir algum resultado nessa complexa negociação internacional. É um enorme alívio."

Grupos ambientalistas apontaram lacunas na resolução, mas consideraram-na melhor do que nada.

Durante o fim de semana, na cúpula do G-8 em Gênova, Bush expressou apoio à redução global dos poluentes, mas insistiu em dizer que o Protocolo de Kyoto estava "fatalmente prejudicado".

Dessa forma, a União Européia ficou dependendo do Japão para conseguir levar o pacto adiante -- sem as duas maiores economias do mundo, principais emissores de poluentes, seria impossível colocá-lo em prática.

O Japão tinha restrições quanto a algumas questões técnicas da implementação e não queria bater de frente com seus aliados norte-americanos.

No final, nenhum dos 180 países presentes apresentou objeções quanto ao compromisso final -- nem mesmo os Estados Unidos, apesar de Washington ter repetido que não vai ratificar o acordo.

Só as nações mais desenvolvidas do mundo, cerca de 30, precisariam cortar emissões de gases do efeito estufa para cumprir o acordo. Seu apoio é essencial para evitar o aquecimento global, cujo efeito mais grave é o derretimento das calotas polares, com a consequente inundação de áreas litorâneas.

Alguns delegados apontaram na negociação uma nova capacidade diplomática global da União Européia, enquanto outros viram o triunfo do "multilateralismo" defendido pela ONU, em contraposição ao "unilateralismo" norte-americano.

"Isso mostra que George Bush está totalmente isolado no debate sobre o clima", disse o ativista do Greenpeace Bill Hare.

A subsecretária de Estado Paula Dobriansky, representante norte-americana em Bonn, afirmou: "Apesar de os Estados Unidos não terem a intenção de ratificar o tratado, tentamos não impedir os outros de irem adiante, desde que os interesses norte-americanos não fossem ameaçados."

Algumas pessoas da platéia interromperam os comentários dela com vaias, quebrando a atmosfera festiva. Em um gesto conciliador, o primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, disse em Tóquio que seu governo vai manter os esforços para incluir os EUA no acordo.

Quatro anos de negociações estavam a ponto de serem perdidos sem o acordo. De um lado, a União Européia queria rígidos controles sobre os poluentes, posição oposta à de Japão, Rússia e Canadá.

Salvamento

Quando o holandês Jan Pronk, presidente da cúpula, apresentou sua proposta de "tudo ou nada", foi imediatamente seguido pela União Européia, iniciando uma maratona de 24 horas para romper o principal impasse com o Japão -como seria as punições para quem não respeitasse as metas.

"Sentimos que não poderíamos fracassar duas vezes", disse Pronk. "Os cidadãos, o eleitorado, as pessoas esperavam que chegássemos a um acordo."

Quando amanheceu, cresceu o temor de que a demora impedisse um acordo. Foi então que a União Européia encontrou espaço para ceder, retirando a palavra "legalmente" do texto que previa a rigidez dos controles das emissões de poluentes em cada país.

Ao final da barganha, uma salva de palmas eclodiu espontaneamente na antiga capital alemã-ocidental. "Salvamos o Protocolo de Kyoto. Podemos ir para casa, olhar nossos filhos nos olhos e sentir orgulho do que fizemos", disse a comissária (ministra) européia do Meio Ambiente, Margot Wallstrom.

Sem querer ficar atrás nos superlativos, o delegado neozelandês, Peter Hogdson, disse que o acordo foi "provavelmente o mais amplo e difícil da história humana".

Países com grande cobertura vegetal, como Canadá, Rússia e Japão, conseguiram concessões da União Européia para que suas florestas, que absorvem carvão, sirvam como contrapeso na meta do dióxido de carbono, o mais importante dos gases do efeito estufa.

Decepcionados, os ambientalistas disseram que o novo acordo prevê apenas um terço dos cortes originais -a idéia anterior era que as emissões em 2012 fossem 5,2% abaixo das de 1990.

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