Mais de 3.000 se despedem de Jorge Amado nesta manhã
da Reuters, em SalvadorMais de três mil pessoas compareceram hoje pela manhã ao Palácio da Aclamação, em Salvador, para prestar a última homenagem ao escritor Jorge Amado, segundo informou o Cerimonial do Palácio.
O movimento de artistas, políticos e populares foi intenso no local desde as primeiras horas da manhã, quando o velório foi aberto ao público às 8h30.
A viúva de Jorge Amado, Zélia Gattai, esteve o tempo todo ao lado do caixão. Ela estava sendo amparada pelos filhos, João e Paloma, e por seus três netos.
"Minha mãe está muito serena e calma", disse Paloma à imprensa. "Mas estamos todo o tempo ao lado dela, pois ela precisará do nosso apoio na hora que esta serenidade passar", afirmou a filha do escritor.
Para os familiares de Jorge Amado, a preocupação agora é com o bem-estar de Zélia. Zélia Gattai conversou rapidamente com os repórteres e lembrou os momentos vividos ao lado de Jorge Amado.
"Tudo de Jorge vai ficar guardado em minha memória, não há como selecionar fragmentos de uma vida tão intensa". Zélia e Jorge foram casados por 50 anos.
Jorge Amado morreu de parada cardiorrespiratória às 19h30 de ontem no Hospital Aliança, em Salvador, onde tinha sido internado às pressas durante a tarde.
O corpo do escritor deixou o hospital por volta das 22h45 de ontem, acompanhado por batedores do Esquadrão Águia, divisão de motociclistas da Polícia Militar da Bahia, que foram abrindo caminho até o Palácio da Aclamação.
Dois automóveis transportaram a família do escritor até o local do velório e o cortejo foi organizado por viaturas da SET (Superintendência de Engenharia de Tráfego), passando pelas avenidas Juracy Magalhães e Anita Garibaldi, e pelo bairro do Garcia, chegando a Campo Grande, onde está localizado o palácio.
As primeiras condolências recebidas pelos familiares do escritor foram as do ex-senador Antônio Carlos Magalhães, do ex-governador da Bahia Paulo Souto e do prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy.
Paulo Souto, radicado na região do cacau, comentou a influência que parte dos livros de Jorge Amado desencadearam na vida cultural das terras grapiúnas (adjetivo que se refere ao sul da Bahia, onde predomina a lavoura cacaueira, e aos moradores da região).
A primeira personalidade artística a dar adeus a Jorge Amado no Palácio da Aclamação foi a atriz Regina Dourado, que mora a cerca de 300 metros do local do velório. Vestida de branco e com flores brancas na mão, ela não quis dar entrevistas. "Deixem-me vê-lo", pediu aos repórteres.
De personagem em personagem, os tipos criados pelo escritor passaram pelo seu caixão e deixaram as suas homenagens.
``A Nação Gandhy se solidariza com a família de Jorge Amado e chora esta perda junto com todos os baianos'', declarou Waldemar Souza, conselheiro do Afoxé Filhos de Gandhy, grupo constituído de mais de 20 mil homens que pregam a paz durante os carnavais.
Os Filhos de Gandhy foram retratados em várias obras do escritor e o conselheiro, que estava devidamente paramentado, se emocionou durante a despedida.
O ex-senador Antônio Carlos Magalhães chegou ao Palácio da Aclamação por volta do meio-dia e permaneceu sentado ao lado de Zélia Gattai.
"Como amigo da família há mais de 40 anos estou sofrendo com esta perda. O Brasil, a Bahia e as letras perderam o seu maior vulto", disse ACM.
Uma das mais emocionantes manifestações de carinho partiu de um popular. João Vilas Boas, de 80 anos, leu em homenagem ao escritor trechos do Evangelho Segundo São João, que fala sobre a ressurreição de Lázaro.
O corpo de Jorge Amado deve deixar o Palácio às 15h30 e seguir em cortejo que começará no Vale da Canela e que vai passar pelas avenidas Garibaldi e Antonio Carlos Magalhães, subir a Ladeira da Cruz da Redenção e deve chegar ao cemitério Jardim da Saudade, no bairro de Brotas, às 17h.
A pedido do escritor, o seu corpo será cremado e suas cinzas serão jogadas no jardim de sua casa sob uma mangueira, no bairro do Rio Vermelho.
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