Reuters
15/04/2001 - 12h50

Novo presidente do Peru enfrentará Congresso dividido

da Reuters

A corrida presidencial no Peru será decidida entre dois populistas carismáticos; mas quem quer que vença terá de enfrentar um Congresso dividido e se verá obrigado a procurar alianças para governar, disseram analistas.

Os resultados das eleições do domingo passado mostram que o primeiro colocado, Alejandro Toledo, nascido na pobreza e largamente popular entre a maioria de origem índia do país, irá disputar o segundo turno contra o ex-presidente Alan García em maio ou junho.

Ainda, segundo a contagem, nenhum partido conseguirá a maioria absoluta das cadeiras do Congresso.

Mas isso pode não ser algo ruim, dizem certos analistas.

O partido de Toledo, Peru Possível (centro), deve conquistar cerca de 25 por cento das 120 cadeiras do Congresso. A legenda de García, Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra, de esquerda), ficou com cerca de 20% das vagas.

Superada pelo ex-presidente nos momentos finais do primeiro turno, realizado no domingo passado, a direitista e ex-deputada Lourdes Flores viu seu partido, a Unidade Nacional, conquistar 13% do Congresso.

Em um cenário em que vários pequenos partidos elegeram o restante dos congressistas, as portas estão abertas para um grande número de possíveis alianças.

A necessidade de que as legendas recorram umas às outras dará oportunidade para um amadurecimento da democracia no país depois de dez anos de governo de Alberto Fujimori, que gozou de uma maioria no Congresso, então sob seu rígido controle. Fujimori fugiu para o Japão devido a um escândalo de corrupção detonado no ano passado.

No caso de García, cujo governo (1985-90) foi marcado por hiperinflação, crise da dívida externa e violência guerrilheira, o Congresso dividido o obrigaria a ceder.

"É a melhor coisa que podia ter acontecido", afirmou o analista Ernesto Velit.

"Isso obriga os partidos a trabalharem juntos a fim de que as leis sejam aprovadas. Isso obriga ao debate e à busca por consenso."

Os partidos terão de fazer acordos se quiserem ver aprovadas reformas essenciais para a recuperação econômica do país.

"Sem negociações e consenso, o Congresso ficará praticamente paralisado", acrescentou.

Alguns, porém, argumentam que a carência de verdadeiros partidos políticos no Peru (a Apra é o único com uma estrutura que transcende seu líder) significa que qualquer aliança acertada será frágil. Além disso, não se pode confiar na fidelidade partidária.

"As coisas podem se complicar se alguns grupos começarem a rachar e a formar ilhas políticas", disse Giovanna Penaflor, chefe do instituto de pesquisa Imasen.

"Mas, a curto prazo, isso não promete ser um problema porque a sobrevivência deles depende do consenso."
 

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