Reuters
31/08/2001 - 11h44

Caso Silvio Santos mostra gosto do público por TV-realidade

da Reuters, em São Paulo

O sequestro do apresentador Silvio Santos mobilizou ontem quase todas as emissoras de televisão, que interromperam sua programação para acompanhar a história, alcançando audiências estrondosas e comprovando o interesse do público por episódios de TV-realidade.

"Nada supera a vida real", disse o roteirista Marçal Aquino, que fez o roteiro de "Os Matadores", de Beto Brant. "A realidade sempre dá uma lição aos escritores. Ninguém, nem Hollywood, seria capaz de imaginar que o sequestrador voltaria à casa de Silvio Santos. É uma história bizarra".

O apresentador foi mantido refém por mais de sete horas em sua casa no Morumbi, zona sul de São Paulo, pelo suposto sequestrador de sua filha, Patrícia Abravanel, libertada na última terça-feira, depois de uma semana de cativeiro. Após ser perseguido pela polícia, Dutra Pinto voltou à mansão do apresentador por volta das 7h da manhã de quinta-feira e se rendeu depois de tensas negociações.

Para Aquino, o episódio contém elementos de filme policial que fizeram do caso mais do que uma simples notícia. "Existia um apelo jornalístico, especialmente, porque ninguém pôde reportar a história da Patrícia e havia sede pela notícia", disse.

"Não há dúvida de que essa é uma história que atrai público, até porque tratava-se de uma figura notória e as pessoas tendem a se envolver na angústia da vítima", explicou.

Cobertura jornalística

A rede Globo fez uma extensa cobertura do caso, atingindo uma audiência média de 26 pontos na manhã de quinta-feira. Segundo dados do ibope, a emissora tem normalmente uma média de 10 pontos no horário matutino.
"Nós não estávamos atrás de audiência, mas queríamos informar o público. Somos uma empresa jornalística e a informação é a nossa prioridade", disse Luis Erlanger, da Rede Globo.

O diretor de jornalismo da TV Cultura, Marco Antônio Coelho Filho, afirmou que em sua emissora, por ser estatal, foi possível adotar uma postura diferente dos outros canais, optando apenas por mostrar flashes ao vivo durante a sua programação matinal.

"Nós não precisamos vender notícia, por isso nós preferimos não fazer uma novela com isso, não fazer drama'', disse Coelho Filho, acrescentando que a TV Cultura manteve a sua média de 3 pontos de audiência.

Para o diretor da TV Cultura, o episódio Silvio Santos era de "interesse público", por ser notícia, mas também porque fez com que as pessoas acompanhassem o desfecho do sequestro com avidez para saber o que aconteceria com o apresentador.

"As pessoas têm interesse por tudo o que envolve o ser humano. Elas são atraídas por coisas mórbidas, mortes, sexo, emoções de dor e emoções de vitória. É por isso que todo mundo pára para ver um acidente'', afirmou Coelho Filho.

O incidente com o apresentador repercutiu até mesmo em uma classe ocupada por alunos do segundo ano do curso de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, que trocaram as aulas pelas notícias do sequestro.

"Foi interessante o modo como tudo aconteceu. Não tinha clima para continuar a aula. Todo mundo ficou muito preocupado como se tudo estivesse acontecendo com um amigo, porque o Silvio Santos transmite intimidade, parece que ele conhece você", comentou o aluno Tiago Costa.

Papel da mídia

O episódio com Silvio Santos não foi o primeiro a atrair público. Em junho do ano passado, o sequestro do ônibus 174, no Rio de Janeiro, durou 12 horas e teve cobertura ampla da mídia, comovendo milhares de pessoas com o assassinato da passageira Geísa Firmo Gonçalves.

Em setembro de 1995, Leonardo Rodrigues Pareja manteve a estudante Fernanda Viana como refém por três dias, na Bahia, após uma frustrada tentativa de assalto. Pareja chegou a ganhar conotação de ídolo, sendo apelidado de "Leo" pela polícia e pela imprensa.

Ele terminou numa prisão em Goiás, onde chegou a comandar uma rebelião, e foi morto por um colega de cela cerca de um ano depois do crime.

"Existe um certo exagero nesse tipo de cobertura. No caso do ônibus, tinha até música de fundo", disse Coelho Filho. "Dependendo de como é feita a cobertura do caso, o cara começa a viver a fantasia e até a se sentir herói".

Livro ou filme

Leonardo Pareja quase virou protagonista de um filme quando o diretor Régis Faria quis documentar a história do assaltante e sequestrador em 1996, mas acabou não levando sua idéia adiante por falta de patrocínio.

Na opinião do roteirista Marçal Aquino, o caso Silvio Santos poderá ser adaptado para cinema, TV ou livro. "Essa história tem todos os elementos para isso. Não há dúvida que alguém vai querer fazer algo com esse episódio", afirmou.

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