Reuters
04/09/2001 - 10h53

Meninas irlandesas vivem segundo dia de terror religioso

da Reuters, em Belfast (Irlanda do Norte)

Dezenas de meninas católicas da Irlanda do Norte foram escoltadas hoje à escola cercadas por um cordão de isolamento, pelo segundo dia consecutivo, por causa das pedras e palavrões lançados contra elas.

A polícia e o Exército foram chamados com veículos pesados para criar um corredor dentro de uma área protestante, onde as meninas católicas poderiam passar. Foi uma cena que lembrou os conflitos ocorridos nos Estados Unidos na década de 1950, quando surgiram as primeiras escolas mistas para brancos e negros.

"Fiquei com muito medo", disse Roisin, de seis anos. Para chegar à escola primária Santa Cruz, a criança passou por multidões iradas de protestantes que a chamaram de "bastarda" e "escória da Terra".

Apesar da tensão, não houve prisões ou feridos graves. Ontem, , cenas parecidas ganharam destaque na imprensa britânica, trazendo mais pessimismo ao processo de paz entre católicos e protestantes na província britânica.

A escola católica foi construída em uma área originalmente mista de Belfast, mas desde então a população se tornou majoritariamente protestante. O início do período letivo detonou as manifestações. "Foi uma experiência horrível, deu muito medo andar por aqui hoje", afirmou Denise Benson, levando sua filha de dez anos à escola. "Foi um pesadelo.'"

Para evitar a confrontação, vários pais usaram um caminho alternativo para chegar à escola, usando uma entrada dos fundos. A escola primária tem cerca de 200 alunas.

Houve tumultos durante a noite na cidade, e um grupo radical protestante ameaçou agredir pais católicos que se aproximassem da escola. "Levei isso muito a sério, é uma razão para não passar por aqui", disse Ann, mãe de uma aluna de oito anos.

A polícia disse que 21 policiais ficaram feridos nos confrontos durante a noite e que mais de cem bombas incendiárias foram lançadas no bairro Ardoyne, zona norte de Belfast.

Alguns tiros foram disparados, tanto pelos protestantes que querem manter a Irlanda do Norte sob o controle de Londres quanto pelos católicos que defendem a independência.

Esse tipo de violência tinha se tornado raro desde o acordo da Sexta-Feira Santa, em 1998. Os principais grupos guerrilheiros da ilha aceitaram se desarmar, mas disputas políticas mantêm a situação tensa.
 

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